Da Secretaria de Comunicação da UnB
Pesquisa realizada pelo Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, coordenado pela professora Regina Dalcastagnè, do Departamento de Teoria Literária e Literaturas, revelou um capítulo sombrio da literatura brasileira contemporânea produzida no período entre 1990 e 2004: a quase ausência da representação de mulheres
negras nos romances publicados pelas três maiores editoras do país, Companhia das Letras, Rocco e Record. De um total de 1.245 personagens catalogadas em 258 obras, apenas 2,7% são mulheres negras.
negras nos romances publicados pelas três maiores editoras do país, Companhia das Letras, Rocco e Record. De um total de 1.245 personagens catalogadas em 258 obras, apenas 2,7% são mulheres negras.
"Lamentavelmente, esses dados não surpreendem. Vivemos em um país de forte tradição escravocrata, em que a imagem da mulher negra ainda é marginalizada", diz a professora do departamento de Sociologia da UnB e subsecretária de planejamento da Secretaria Especial de Política para as Mulheres, Lourdes Bandeira.
Para Marina Farias Rebelo, mestranda do Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea, a presença de apenas uma mulher negra como narradora traduz grande significado. "A mulher negra não fala, ela é falada", ressalta. Em seu estudo, ela compara a literatura com o rap como lugar de expressão para esse grupo. "No rap, a mulher negra
reivindica a voz para si, elas cantam a sua mensagem, coisa que não acontece na literatura", explica.
Lourdes Bandeira acredita que o fato de existir só uma narradora negra em quase 15 anos de publicações demonstra que essa figura é silenciada. "Os escritores brasileiros estão tirando delas o direito do uso da palavra. Com isso, a mulher fica mantida no anonimato", destaca.
A professora Regina reforça a importância de ser dona do seu próprio discurso. "Quando ums personagem fala, ela adquire poder, faz com que o leitor siga pela perspectiva da mulher negra", afirma.
"É um segmento social predominantemente masculino que não está atento as mudanças sociais e ainda mantém valores de certo menosprezo à mulher negra", completa subsecretária de planejamento da Secretaria Especial de Política para as Mulheres.
A mestranda Marina Farias adverte que a intenção da pesquisa não é censurar os escritores, mas sim fazer com que eles reflitam sobre perspectivas sociais diferentes. "Não queremos policiar ninguém. Defendemos o direito de cada um escrever o que quer, mas queremos que isso seja feito de forma responsável."
De acordo com a professora Dione Moura, da Faculdade de Comunicação, existe uma produção emergente que traz um desejo de transformação dessa realidade. Dar voz a isso, diz ela, ajudaria a mudar os números apresentados pela pesquisa. "É preciso fortalecer as produções alternativas que têm voz de igualdade. Editais públicos e programas governamentais seriam um bom meio de se fazer isso", aponta.
As mulheres mais velhas também estão pouco presentes nas páginas da literatura brasileira contemporânea. Segundo a pesquisa do grupo da professora Regina Dalcastagnè, do universo de 1.245 personagens catalogadas, apenas 40 eram mulheres em idade mais avançada. O dado chamou atenção da pesquisadora Susana Moreira de Lima, também integrante do grupo de estudo, que escreveu a tese de doutorado "O outono da vida: trajetórias do envelhecimento feminino em narrativas brasileiras contemporâneas".
Em seu estudo, Susana adotou uma amostra composta por 12 contos, uma novela e dois romances, escritos entre 1960 e 2003, em que mulheres velhas eram as protagonistas. "A idosa não tem voz na nossa literatura. Em três dos textos elas foram narradoras, mas apenas em um era uma narradora forte", esclarece a pesquisadora. Todas as obras nessa situação foram escritas por mulheres.
Os estereótipos da velhice, como a debilidade física e o corpo deteriorado foram explorados. Mas nos textos de escritoras, o assunto era melhor problematizado, por meio de críticas que subverteram esse olhar inquisidor da sociedade à mulher com mais idade. Outro tema que foi associado à idade avançada em todos os momentos foi a solidão.
Agência.
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