segunda-feira, 21 de junho de 2010

UNEB promove o III Seminário Internacional Acolhendo as Línguas Africanas - BA

Despertar na comunidade acadêmica brasileira o interesse pelos estudos das línguas e culturas africanas mostrando a sua importância para a formação e sentido do Brasil. O continente africano vem provocando o interesse de inúmeros pesquisadores contemporâneos e sendo tomado como base para se estabelecer profundas discussões sobre a diversidade étnica e o modo como as hierarquias de base étnico-raciais são reiteradas. Discutir sobre a influência da África no Brasil é reconhecer a necessidade de se refletir sobre a história e os mitos que foram estabelecidos em torno do nosso descobrimento e sobre conceitos cristalizados de raça, etnia, nação e nacionalismo. O estudo dessas questões nos mostra a urgência de se recontar a história e dar voz aos cantos silenciados.
Conhecer a África é abrir os olhos a matrizes que interferem no nosso modo de ser e estar no mundo.
Freqüentemente associadas às fronteiras do preconceito, as culturas e as línguas africanas foram relegadas, historicamente, a uma imagem pejorativa e destrutiva do escravo, sempre considerado inferior do ponto de vista cultural e, conseqüentemente, do ponto de vista social. Essa visão ideológica e equivocada do outro criou os estereótipos sobre os negros: um clichê aviltado, simplificado preconceituosamente. Entretanto hoje vários estudos são desenvolvidos voltando-se para o reverso dos estereótipos e a produção de identidades minoritárias como construções sociais complexas e em continua transformação.
É preciso entender a sociedade brasileira a partir das diferenças culturais e ler a historia não como uma totalidade fechada, para que se possa tirar da clandestinidade muitos fatos que foram camuflados pelo pensamento dominante europeu, pois a “cultura”, sejam quais foram as características ideológicas ou idealistas das suas manifestações, é um elemento essencial da História de um povo. (Almiscar Cabral)
“Dentro da cultura, a marginalidade, embora permaneça periférica em relação ao mainstream, nunca foi um espaço tão produtivo quanto é agora, e isso não é simplesmente uma abertura, dentro dos espaços dominantes, à ocupação dos de fora. É também o resultado de políticas culturais de diferença, de lutas em torno da diferença, da produção de novas identidades e do aparecimento de novos sujeitos nos cenários político e cultural. Isso vale não somente para a raça, mas também para outras etnicidades marginalizadas, assim como o feminismo e as políticas sexuais no movimento de gays e lésbicas, como resultado de um novo tipo de política cultural” (HALL, 2003, p.338)
Nesse sentido, o evento, com base na Lei 10.639, tem como objetivos:
• discutir sobre a influência da África no Brasil;
• despertar na comunidade acadêmica brasileira o interesse pelos estudos das línguas e culturas africanas;
• discutir a importância desses estudos para o entendimento da formação e sentido do Brasil.
Promover um evento sobre as línguas e culturas africanas é muito pertinente, principalmente ao se considerar a lei 10.639, sancionada em 9 de maio de 2003, pelo Presidente Luis Inácio Lula da Silva, que torna obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileiras nos estabelecimentos de ensinos fundamental e médio, oficiais e articulares, contemplando o estudo da História da África e dos africanos.
Discutir sobre as culturas africanas na Universidade é, sobretudo, das oportunidades à comunidade acadêmica para construir conceitos necessários para melhor entender a questão racial no Brasil e estabelecer uma educação antirracista, evitando a reprodução de preconceitos, possibilitando a inserção social igualitária e combatendo a idéia de inferioridade/superioridade entre os indivíduos. O significado de diferenças étnicas, de gênero e identidade é crucial para a compreensão de novos paradigmas literários e culturais.
Há na educação brasileira um imenso vazio sobre o estudo da história do continente africano. No tocante à história da literatura africana e afro-brasileira, prevaleceu o vazio, haja vista o negro não ter ocupado nenhum lugar, a fim de não prejudicar o projeto de identidade próxima da européia, cujo cânone literário reflete uma sociedade culturalmente estruturada. Assim, discutir a representação do negro implica não somente uma reflexão do seu lugar na sociedade, mas também sua reescrita na história. Partindo do pressuposto de que o cânone literário reflete um sistema de valores instituído por grupos detentores de poder, que legitimam decisões particulares com um discurso globalizante, podemos afirmar que, no caso do Brasil, os críticos estiveram atrelados a uma identidade cultural ocidental européia que compactuou com a política de exclusões. Cabem aos profissionais da educação quebrar o silêncio que ainda há sobre o assunto e promover eventos em que se possam ampliar os conhecimentos acerca da nossa diversidade cultural e sobre o significado de uma escola laica.

Site: http://www.uneb.br/siala/2010/05/07/o-que-e-o-siala/ 

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