sexta-feira, 18 de março de 2011

UnB debate política de diversidade

Comissão coloca em consulta pública documento sobre acolhimento à diversidade. Propostas serão recebidas até 20 de abril
Juliana Braga - Da Secretaria de Comunicação da UnB

A Universidade de Brasília está elaborando uma política de acolhimento da diversidade entre seus estudantes. O trabalho conduzido pela Comissão Permanente de Acompanhamento de Ingressos Especiais (CPAIE) pretende institucionalizar medidas já adotadas, criar novas ações e definir responsabilidades. O resultado foi colocado em consulta pública e está recebendo sugestões até o dia 20 de abril, pelo e-mail cpaie@unb.br. A política pode ser lida na íntegra aqui.
A política inclui ações para os estudantes indígenas, negros, oriundos das classes populares e do campo, estrangeiros, portadores de necessidades especiais. Também prevê medidas para questões de gênero e sexualidade. “Reunimos, no mesmo documento, várias iniciativas que existem em outros decanatos e departamentos como forma de assumir um compromisso institucional efetivo com a diversidade”, explica a professora Leila Chalub, integrante da CPAIE.
Segundo a professora, dessa forma evita-se que problemas encontrados na aplicação das ações afirmativas sejam resolvidos com base em opiniões pessoais. A ideia de organizar um documento e colocá-lo em consulta pública veio de uma demanda dos alunos indígenas. Leila Chalub conta que a Fundação Nacional do Índio (Funai), com quem a UnB mantém o convênio de ingresso desses estudantes, tentava mudar pontos do acordo, como cobrar prazo para o término do curso.
“Decidimos então que a universidade deveria ter uma postura antecipada ao acolhimento dessa diversidade, sistematizar qual é seu interesse e como ela quer ver esse acolhimento”, explica. A ideia é definir as instâncias decisórias nesse processo. “Quem cuida do Programa de Apoio ao Portador de Necessidades Especiais, por exemplo, é a vice-reitoria. Mas será que é essa a instância adequada?”, exemplifica.
EDITAIS Leila Chalub destaca algumas das ações sugeridas pelo documento. Uma delas é o fomento, por meio de editais, para pesquisas e publicações relacionadas à diversidade. Outra é o oferecimento aos alunos não indígenas de residência durante as férias, como uma atividade de extensão, em comunidades indígenas, quilombolas e assentamentos de reforma agrária. “A gente lida com a diversidade ao receber o outro. Mas é uma oportunidade riquíssima permitir que os alunos pisem esse chão da diversidade do país, que a gente ouve falar, mas não conhece a realidade de fato”, pontua.
Uma das principais ações é a possibilidade de oferecer uma bolsa de estágio técnico aos recém-formados para retornarem às comunidades ou trabalharem em postos definidos pela UnB como serviço cívico. “A universidade dá um salto extraordinário no seu engajamento e compromisso social. Não podemos obrigar o aluno a voltar, mas podemos pelo menos dar condição que ele possa permanecer como profissional comprometido com a realidade da qual ele veio”, defende. A bolsa teria duração máxima de dois anos.
Antônio Macedo Dias, estudante indígena de Agronomia, também vê com bons olhos essa medida. Em uma viagem à campo com a Associação dos Acadêmicos Indígenas da UnB (AAIDF), Antônio teve contato com uma agrofloresta no Acre e tem vontade de implementar o sistema em sua aldeia, a Massacará, na Bahia. “A minha maior vontade é voltar para lá e tentar reconstruir o sistema que a gente tinha de contato com a natureza antes das nossas terras serem aos poucos invadidas”, afirma.
Segundo ele, seu plano era, pelo menos, tentar voltar durante folgas do trabalho para levar o conhecimento que adquiriu na UnB. “Com a bolsa, vou poder voltar para a minha aldeia. Dois anos são suficientes para a gente se estabilizar e não precisar mais do dinheiro”, afirma.
Outra vantagem da política, segundo Antônio é tentar trazer mais informações para os alunos não indígenas sobre a presença deles na universidade. “Muitos estudantes nos excluem na hora de formar grupos para apresentar seminários porque falta de informação”, conta. Antônio diz ainda que essa exclusão é ainda mais grave, porque os indígena já enfrentam um choque cultural ao vir para a cidade. “Nas aldeias temos uma vida mais em comunidade. Aqui começamos a experimentar uma vida individual. Isso é ainda mais difícil quando não somos acolhidos”, lamenta.

Fonte: UnB Agência.

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