Hoje, 08 de julho, às 17h, no auditório do CEAO, em Salvador, a jornalista e mestra em Educação, Céres Santos, assume o cargo de coordenadora do CEAFRO. Em entrevista exclusiva para o CORREIO NAGÔ, a nova coordenadora fala dos desafios e prioridades dessa nova gestão.
O que é o CEAFRO?
O CEAFRO/UFBa é um programa do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) da Universidade Federal da Bahia (UFBa) cuja missão é de enfrentamento do racismo e sexismo para a promoção da igualdade de oportunidades entre os negros e não-negros e entre mulheres e homens, tanto pela sociedade civil, como pelo Estado, a partir da implantação de políticas públicas. Para isso tem desenvolvido projetos educacionais e profissionalizantes direcionadas à comunidade negra, com foco na identidade racial e de gênero; à educadores das redes públicas de Educação, junto a comunidades quilombolas, por exemplo.
Quais são os novos desafios do CEAFRO/UFBA após completar 15 anos de existência?
São muitos. É preciso que se observe o contexto atual das relações raciais no Brasil. Em 15 anos tivemos
alguns avanços nessa caminhada, fruto da militância do Movimento Negro Brasileiro. Isso é inegável. No entanto, enfrentamos novos problemas, resultado das resistências raciais em aceitar ações que promovam, de fato, a comunidade negra, entendendo como comunidade negra, um universo que compreende suas
culturas, identidades, suas manifestações culturais e religiosas, o seu jeito de ver e conceber o mundo. Um exemplo são as dificuldades para a implantação da Lei 10.639, que estabelece a inclusão nos currículos escolares das culturas afro brasileiras e africanas; e a necessidade de ações para a permanência
dos/as cotistas no Ensino Superior. Nesse item, não podemos desconsiderar o nocaute a luta anti-racistas dado pelo Congresso Nacional ao aprovar o que anteriormente era chamado de Estatuto da Igualdade Racial. O documento final foi aprovado sem o artigo que tratava das Ações Afirmativas e cotas para ampliar o
acesso da comunidade negra no ensino superior, um retrocesso de grandes consequências negativas a luta contra o racismo.
Não podemos esquecer que foi através do CEAO, o CEAFRO/UFBa conseguiu reunir várias entidades do Movimento Negro e constituir o ComitêPró-Cotas que apresentou uma proposta de políticas de Ações Afirmativas a UFBa, aprovada em maio de e com validade por 10 anos e que agora, toda essa luta está
correndo risco não só na Bahia, mas em todo o país. Então, o CEAFRO/UFBa completa 15 anos, tendo que estar atento, reflexivo e preparado para propor ações nesse novo cenário diaspórico, dentro dos seus princípios que contemplam a ancestralidade, a identidade e a resistência.
Quais as prioridades do CEAFRO/UFBA nessa sua gestão?
Estamos exercitando uma gestão colegiada na qual estão sendo discutidas novas possibilidades de intervenção institucional. É importante que se destaque que desde dezembro de 2010 que o CEAFRO/UFBa
iniciou um processo de refortalecimento institucional com vistas a manter-se em um local de destaque nacional no enfrentamento do racismo e do sexismo. Nesse sentido, não só as relações institucionais estão sendo revistas, mas também rotinas de trabalho, formações internar e novos projetos para 2011. Nos últimos
anos o CEAFRO/UFBA tem centrado suas ações na formação de educadores para a diversidade de raça e gênero na sala de aula; na formação de gestores para o enfrentamento do racismo, no refortalecimento de entidades de mulheres para combater a violência, por exemplo. Além da continuidade dessas ações estamos
sentindo a necessidade de retomar ações diretas com e para a juventude negra; de intensificar a produção científica das experiências desenvolvidas pelo CEAFRO/UFBa e por sua equipe. Ou seja, estamos produzindo conhecimento e esse conhecimento precisa ser mais socializado com a sociedade. Como sou jornalista, estou elaborando uma proposta de ações educativas na linha da metodologia de Educom para ser
desenvolvida nos projetos do CEAFRO/UFBa. Na verdade não estamos propondo mudanças de grande impacto porque as ações que o CEAFRO/UFBa desenvolve são muito consistentes, teoricamente. Desejo sim, ampliar as ações educativas associando a importância da democratização da Comunicação e de práticas de
Educom.
Qual será o papel do Conselho Consultivo que será lançado dia 08 de julho?
Em 15 anos, o CEAFRO/UFBa amadureceu a idéia de que um Conselho Consultivo tem um papel fundamental de refortalecimento institucional. Um Conselho Consultivo, formado por pessoas cujas trajetórias de vida foram marcadas por ações de enfrentamento do racismo e do sexismo, é fundamental para que nos aconselhem, sempre que necessário. É uma forma de reconhecimento e, ao mesmo tempo, de acolhimento do CEAFRO/UFBa, uma manifestação cultural muito presente nas religiões de matriz africana, onde ‘os
mais velhos’ são sempre consultados diante de novos desafios. A maioria das pessoas que forma o Conselho já é por nós consultadas, com alguma freqüência. Na verdade, estamos formalizando um grupo de apoio institucional.
Você, na condição de jornalista, pretende incorporar o debate sobre o direito à
comunicação nos projetos do CEAFRO/UFBA?
Com certeza. Se estamos falando de enfrentamento do racismo e sexismo, de democracia, direitos humanos não podemos excluir a discussão e ações sobre a democratização da comunicação. A luta anti-racista brasileira tem uma história ainda nem conhecida pela maioria das pessoas que cursa ou cursou jornalismo. Penso que a lei 10.639 pode mudar isso. Mas afora essa questão sabemos do papel dos Meios de Comunicação de Massa em manter, reproduzir relações de exclusões e esteriótipos.
Quando eu fiz a minha pesquisa de Mestrado sobre imprensa e Ações Afirmativas, fiquei espantada com alguns dosresultados. Da maioria das pessoas entrevistadas para tratar da aplicação de políticas de Ações Afirmativas para ampliar o acesso de negros/as no Ensino Superior as mulheres negras foram as menos ouvidas sobre o tema. Enquanto foramentrevistadas 53 mulheres brancas apenas 20 negras forma ouvidas. Já entre os
homens, outro disparate: 222 homens brancos entrevistados contra 33 homens negros. Mesmos soltos esses dados demonstram uma explicita exclusão da comunidade negra ao discurso midiático discriminação de raça e gênero.
Por isso, entendo que podemos discutir sim, o direito à comunicação de uma forma diferenciada, que contemplequestões específicas dos processos de exclusão gerados e mantidos pelo racismo e sexismo com projetos voltados para a formação de jovens comunicadores populares; de incluir na formação de educadores a Educom, de estimular e capacitar jovens e mulheres quilombolas para a criação e gestão de rádios
comunitárias etc.
Qual a mensagem que você deixa para a comunidade negra, em especial da Bahia, que tem no CEAFRO/UFBA uma referência na luta pela igualdade racial e de gênero?
A mudança da coordenação executiva do CEAFRO/UFBa faz parte de um rito de passagem, de uma vontade de coletivizar, democratizar espaços, olhares e práticas de enfrentamento ao racismo e sexismo. Cada mudança de coordenação tem um papel simbólica e real de renovação de energias. Na verdade, a essência que move o CEAFRO/UFBa -,divulgada, na sua missão e princípios institucionais - será mantida, com a mesma garra e vigor das gestoras anteriores, Vanda Sá Barreto, Valdecir Nascimento e Vilma Reis. Afinal, enquanto existir o racismo e o sexismo, precisaremos resistir e sermos propositivas. Por isso, o CEAFRO/UFBa, em seus 15 anos de existência, continuará se preocupando e investindo na formação de sua equipe para que possa manter-se firme e competente nessa jornada ao lado das entidades negras e de mulheres.
Mais informações sobre o CEAFRO no www.ceafro.ufba.br
Por Paulo Rogério
O que é o CEAFRO?
O CEAFRO/UFBa é um programa do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO) da Universidade Federal da Bahia (UFBa) cuja missão é de enfrentamento do racismo e sexismo para a promoção da igualdade de oportunidades entre os negros e não-negros e entre mulheres e homens, tanto pela sociedade civil, como pelo Estado, a partir da implantação de políticas públicas. Para isso tem desenvolvido projetos educacionais e profissionalizantes direcionadas à comunidade negra, com foco na identidade racial e de gênero; à educadores das redes públicas de Educação, junto a comunidades quilombolas, por exemplo.
Quais são os novos desafios do CEAFRO/UFBA após completar 15 anos de existência?
São muitos. É preciso que se observe o contexto atual das relações raciais no Brasil. Em 15 anos tivemos
alguns avanços nessa caminhada, fruto da militância do Movimento Negro Brasileiro. Isso é inegável. No entanto, enfrentamos novos problemas, resultado das resistências raciais em aceitar ações que promovam, de fato, a comunidade negra, entendendo como comunidade negra, um universo que compreende suas
culturas, identidades, suas manifestações culturais e religiosas, o seu jeito de ver e conceber o mundo. Um exemplo são as dificuldades para a implantação da Lei 10.639, que estabelece a inclusão nos currículos escolares das culturas afro brasileiras e africanas; e a necessidade de ações para a permanência
dos/as cotistas no Ensino Superior. Nesse item, não podemos desconsiderar o nocaute a luta anti-racistas dado pelo Congresso Nacional ao aprovar o que anteriormente era chamado de Estatuto da Igualdade Racial. O documento final foi aprovado sem o artigo que tratava das Ações Afirmativas e cotas para ampliar o
acesso da comunidade negra no ensino superior, um retrocesso de grandes consequências negativas a luta contra o racismo.
Não podemos esquecer que foi através do CEAO, o CEAFRO/UFBa conseguiu reunir várias entidades do Movimento Negro e constituir o ComitêPró-Cotas que apresentou uma proposta de políticas de Ações Afirmativas a UFBa, aprovada em maio de e com validade por 10 anos e que agora, toda essa luta está
correndo risco não só na Bahia, mas em todo o país. Então, o CEAFRO/UFBa completa 15 anos, tendo que estar atento, reflexivo e preparado para propor ações nesse novo cenário diaspórico, dentro dos seus princípios que contemplam a ancestralidade, a identidade e a resistência.
Quais as prioridades do CEAFRO/UFBA nessa sua gestão?
Estamos exercitando uma gestão colegiada na qual estão sendo discutidas novas possibilidades de intervenção institucional. É importante que se destaque que desde dezembro de 2010 que o CEAFRO/UFBa
iniciou um processo de refortalecimento institucional com vistas a manter-se em um local de destaque nacional no enfrentamento do racismo e do sexismo. Nesse sentido, não só as relações institucionais estão sendo revistas, mas também rotinas de trabalho, formações internar e novos projetos para 2011. Nos últimos
anos o CEAFRO/UFBA tem centrado suas ações na formação de educadores para a diversidade de raça e gênero na sala de aula; na formação de gestores para o enfrentamento do racismo, no refortalecimento de entidades de mulheres para combater a violência, por exemplo. Além da continuidade dessas ações estamos
sentindo a necessidade de retomar ações diretas com e para a juventude negra; de intensificar a produção científica das experiências desenvolvidas pelo CEAFRO/UFBa e por sua equipe. Ou seja, estamos produzindo conhecimento e esse conhecimento precisa ser mais socializado com a sociedade. Como sou jornalista, estou elaborando uma proposta de ações educativas na linha da metodologia de Educom para ser
desenvolvida nos projetos do CEAFRO/UFBa. Na verdade não estamos propondo mudanças de grande impacto porque as ações que o CEAFRO/UFBa desenvolve são muito consistentes, teoricamente. Desejo sim, ampliar as ações educativas associando a importância da democratização da Comunicação e de práticas de
Educom.
Qual será o papel do Conselho Consultivo que será lançado dia 08 de julho?
Em 15 anos, o CEAFRO/UFBa amadureceu a idéia de que um Conselho Consultivo tem um papel fundamental de refortalecimento institucional. Um Conselho Consultivo, formado por pessoas cujas trajetórias de vida foram marcadas por ações de enfrentamento do racismo e do sexismo, é fundamental para que nos aconselhem, sempre que necessário. É uma forma de reconhecimento e, ao mesmo tempo, de acolhimento do CEAFRO/UFBa, uma manifestação cultural muito presente nas religiões de matriz africana, onde ‘os
mais velhos’ são sempre consultados diante de novos desafios. A maioria das pessoas que forma o Conselho já é por nós consultadas, com alguma freqüência. Na verdade, estamos formalizando um grupo de apoio institucional.
Você, na condição de jornalista, pretende incorporar o debate sobre o direito à
comunicação nos projetos do CEAFRO/UFBA?
Com certeza. Se estamos falando de enfrentamento do racismo e sexismo, de democracia, direitos humanos não podemos excluir a discussão e ações sobre a democratização da comunicação. A luta anti-racista brasileira tem uma história ainda nem conhecida pela maioria das pessoas que cursa ou cursou jornalismo. Penso que a lei 10.639 pode mudar isso. Mas afora essa questão sabemos do papel dos Meios de Comunicação de Massa em manter, reproduzir relações de exclusões e esteriótipos.
Quando eu fiz a minha pesquisa de Mestrado sobre imprensa e Ações Afirmativas, fiquei espantada com alguns dosresultados. Da maioria das pessoas entrevistadas para tratar da aplicação de políticas de Ações Afirmativas para ampliar o acesso de negros/as no Ensino Superior as mulheres negras foram as menos ouvidas sobre o tema. Enquanto foramentrevistadas 53 mulheres brancas apenas 20 negras forma ouvidas. Já entre os
homens, outro disparate: 222 homens brancos entrevistados contra 33 homens negros. Mesmos soltos esses dados demonstram uma explicita exclusão da comunidade negra ao discurso midiático discriminação de raça e gênero.
Por isso, entendo que podemos discutir sim, o direito à comunicação de uma forma diferenciada, que contemplequestões específicas dos processos de exclusão gerados e mantidos pelo racismo e sexismo com projetos voltados para a formação de jovens comunicadores populares; de incluir na formação de educadores a Educom, de estimular e capacitar jovens e mulheres quilombolas para a criação e gestão de rádios
comunitárias etc.
Qual a mensagem que você deixa para a comunidade negra, em especial da Bahia, que tem no CEAFRO/UFBA uma referência na luta pela igualdade racial e de gênero?
A mudança da coordenação executiva do CEAFRO/UFBa faz parte de um rito de passagem, de uma vontade de coletivizar, democratizar espaços, olhares e práticas de enfrentamento ao racismo e sexismo. Cada mudança de coordenação tem um papel simbólica e real de renovação de energias. Na verdade, a essência que move o CEAFRO/UFBa -,divulgada, na sua missão e princípios institucionais - será mantida, com a mesma garra e vigor das gestoras anteriores, Vanda Sá Barreto, Valdecir Nascimento e Vilma Reis. Afinal, enquanto existir o racismo e o sexismo, precisaremos resistir e sermos propositivas. Por isso, o CEAFRO/UFBa, em seus 15 anos de existência, continuará se preocupando e investindo na formação de sua equipe para que possa manter-se firme e competente nessa jornada ao lado das entidades negras e de mulheres.
Mais informações sobre o CEAFRO no www.ceafro.ufba.br
Por Paulo Rogério
FONTE: Correio Nagô
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