Meus Caros,
Infelizmente, nessa última quinta-feira, 11 de agosto de 2011, na LIVRARIA SARAIVA MEGASTORE do Shopping Barra, fui vítima de um episódio lamentável de constrangimento e racismo, mas que peço licença a vocês para narrar ao fazer questão de aqui compartilhar para que não caia no descaso como pode suceder a tantos outros episódios similares a esse e para que possa servir também de exemplo ou emblema contra esse tipo de situação.
Por morar na Graça, aqui em Salvador, devido à proximidade, acabo sempre frequentando restaurantes e outras lojas do Shopping Barra, inclusive a SARAIVA MEGASTORE, onde costumo ir muitas vezes durante a semana no início da noite, após o trabalho, ou nos fins de semana para tomar um saboroso café, comer alguma coisa, enquanto folheio e leio um livro, uma revista, escolho um CD, um DVD, e onde, aliás, possuo um cartão fidelidade por ser cliente assíduo. Sou muito bem tratado aí, tanto pelos funcionários da própria SARAIVA quanto também pelos funcionários do CAFÉ FEITO A GRÃO, instalado no interior da livraria. Frequento essa livraria desde quando foi inaugurada, há aproximadamente dois anos atrás e nunca antes tinha sido alvo de qualquer abordagem como a que sofri e nem mesmo tinha presenciado ou testemunhado alguém sendo alvo dela. Quem me conhece bem sabe que estou quase sempre carregando um livro, uma revista, os dois juntos, pra cima e pra baixo, pois tenho o hábito de estar sempre lendo alguma coisa. Assim, sempre circulei em vários lugares carregando livro ou revista e costumava fazer isso também na SARAIVA, como aliás também muita gente faz, carregando bolsas, mochilas, sacolas, entrando e saindo da loja a todo momento. Quando pegava um livro ou uma revista na prateleira e que subia para a cafeteria que fica no mezanino da loja, na hora de ir embora ou eu comprava algo que tivesse me interessado ou, então, de maneira geral, devolvia pessoalmente à prateleira de onde tinha retirado o produto. Agia assim de forma zelosa talvez por conta do vício de agir assim em bibliotecas, na expectativa de poder sempre encontrar o livro no mesmo lugar, ou mesmo por conta de caprichos ou das minhas próprias tendências obsessivas, vai saber. Mais uma vez, nessa última quinta-feira, 11 de agosto deste ano, depois de tomar café e água e ler uns dois capítulos de um empolgante livro de Luís Alberto Moniz Bandeira, “De Martí a Fidel”, devolvi este à prateleira e parti em direção à saída da loja, distraidamente, envolto em meus próprios pensamentos, carregando uma revista, a última edição da “SCIENTIFIC AMERICAN BRASIL” com uma matéria de capa do neurocientista brasileiro Miguel Nicolélis, e um livro um pouco surrado, uma edição de “VIAGEM ATÉ O FIM DA NOITE” de Céline, ambos pertences meus comprados em outros lugares e em outros momentos. No momento dessa saída, um segurança da própria SARAIVA, da empresa GPS, abordou-me, perguntando se o livro e a revista eram meus e, pasmem!, se eu tinha a nota fiscal dos mesmos para provar a procedência. Minha primeira reação, admito, foi de surpresa, de como quem não está entendendo o que está acontecendo, estranhando a pergunta. Ele insistiu nesta, exibindo ao mesmo tempo, um certo cinismo no semblante, com aquele risinho de canto de boca. Levei tempo para esboçar alguma reação mais adequada ao que a situação exigia. Refazendo-me da surpresa, consegui, pelo menos, perguntar se ele podia me abordar daquela maneira, no que ele me confirmou, cheio de empáfia, que sim e que costumava fazê-lo com outras pessoas que estivessem carregando livros ou revistas ou outros produtos que também são vendidos na loja. Mesmo chateado e não escondendo isso, mas para não criar confusão e sair em paz (acreditem!), acabei cedendo e respondendo que tanto o livro quanto a revista eram meus e perguntando se, ainda assim, teria de apresentar alguma nota de compra destes, no que ele, dando já algum sinal de recuo da trapalhada que fizera, me falou que não seria mais necessário. Em seguida, saí efetivamente da loja, dois ou três passos pra fora, não mais do que isso, com uma enorme sensação de impotência, de dignidade ferida, de humilhação, pensando, inclusive, nas pessoas que ali estavam e que me conheciam um pouco e também naquelas que nem sequer me conheciam mas que testemunharam, mesmo que à distância, a minha abordagem pelo segurança engravatado e que notaram meu visível espanto e constrangimento, que provavelmente me julgaram ali mesmo ou me julgariam mais cedo ou mais tarde, com alguma evidente razão, de forma negativa, depreciativa, quando uma corajosa voz, aquela que se sente indignada, que clama por justiça, por verdade, felizmente gritou em mim para me lembrar que seguir adiante para fora da loja seria dar curso a uma condenação ainda pior que seria a de passar a viver como um constrangido, como um covarde, como alguém que abriu mão da própria dignidade. Voltei para loja, nervoso, mas tentando me manter calmo, tentando controlar minha agressividade, tentando falar pausadamente, tentando manter a máquina de raciocinar, de argumentar, em bom funcionamento. “Você não pode me abordar assim! Isso é constrangimento!”, foi por onde ganhei fôlego, me dirigindo ao segurança. Como ele insistiu em justificar sua atitude como correta, pedi para falar com o gerente da loja, buscar respostas e desculpas, pelo menos, em outra instância. De forma zombeteira, como quem está pouco se lixando para o ocorrido, indicou-me o balcão da loja. Quase meia-hora depois, chegou um subgerente, de pré-nome Alex, até educado, mas sem qualquer autonomia, negando o registro por escrito da ocorrência na própria loja, informando que o gerente estava ausente, que eu deveria recorrer ao registro na ouvidoria da livraria via internet e sem me solicitar quaisquer dados pessoais meus para futuros contatos e reparos por parte da SARAIVA. Ali mesmo, no interior da livraria, tanto embaixo quanto no mezanino, em alto e bom tom, e para surpresa do gerente e dos demais presentes, fiz questão de pedir um momento da atenção dos clientes para esclarecer e denunciar o ocorrido como um ato de constrangimento e de discriminação racial, pois estou certo de que se tivesse a pele clara ou branca dificilmente seria alvo de alguma abordagem, principalmente, daquela a que fui submetido. Os presentes que, inicialmente, se mostraram desconfiados com a minha atrevida e ruidosa solicitação para ser ouvido, ao ficarem cientes do que se tratava, se solidarizaram com a minha causa com gestos de assentimento enquanto falava, mas também com orientações de como proceder a partir daí e até me felicitaram pela minha audaciosa coragem. Essa breve mobilização, que fiz no interior da loja e que, por algum tempo, mudou a atmosfera costumeira do lugar, habituado a certa calmaria, comedimentos, transformou-a provisoriamente num espaço de problematização jurídica e de certa agitação política, o que acabou por atrair a atenção dos seguranças do próprio Shopping Barra, que vieram a se fazer presentes no interior da loja, sondando-me à distância na expectativa de que o pequeno distúrbio cessasse logo e a normalidade se restabelecesse o mais rapidamente possível. Uma das clientes que me ouvira me orientara a registrar uma queixa formal no setor de atendimento ao cliente do próprio shopping. Um dos seguranças deste, inclusive, fez a mesma orientação, pretendendo me pacificar mais que tudo, e acompanhou-me junto com uma testemunha até o setor sugerido, onde foi feito um relatório do caso, cujo número de ocorrência é 3047. Após o registro do caso no shopping, rumamos, eu e a testemunha, para proceder, conforme outra sugestão de clientes da SARAIVA, ao registro do Boletim de Ocorrência de número 3758, na 14ª Delegacia de Polícia, na Barra. Possa ser que para alguns não foi nada demais! Que eu é que estou exagerando! Que não vai dar em nada mesmo! Possa ser que para alguns o respeito ao indivíduo, aos seus direitos, seja alguma coisa menor, não tão importante assim! Possa ser que me julguem ingênuo, de esquerda, subversivo, ativista negro ou sei-lá-o-quê-mais! Mas possa ser também que a casa do vizinho seja um lugar muito mas muito distante, que nós vivamos envoltos por uma redoma frágil de autossuficiência e de proteções sem fim, o que nos faz crer que o sofrimento de que padece esse vizinho seja totalmente indiferente para nós, outros, seus vizinhos! Possa ser...!!! Convenhamos, o fato é que, em hipótese alguma, sob pretexto algum, segurança de loja nenhuma pode abordar cliente algum da forma como fez comigo.
O objetivo, agora, é vir a dar curso a um processo judicial por danos morais, racismo, o que for, contra a LIVRARIA SARAIVA MEGASTORE. Para além disso, é importante também fazer repercutir este caso o mais possível, não apenas para que o que aconteceu comigo tenha extenso e propagado conhecimento público, mas, como já disse, para que este caso se torne emblema ou que tenha a força de um exemplo para evitar que outras pessoas tenham que passar por tais situações. Tentarei divulgar na imprensa também. Por isso é que solicito a vocês, para aqueles que quiserem e puderem, obviamente, essa gentileza e esse gesto de solidariedade de repassarem adiante esse e-mail para outros contatos eletrônicos e, preferencialmente, para e-mails de grupos e para redes sociais virtuais. Atenciosamente! Obrigado!
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