Ao dizer que jamais tomará decisões: “rocambolescas e chocantes para a coletividade”
o Ministro Joaquim Barbosa contestou as críticas do também ministro do
STF (Supremo Tribunal Federal) Marco Aurélio Mello que acusou Barbosa de
destempero e pôs em dúvida seu desempenho como futuro presidente do
STF. Barbosa ainda afirmou durante uma das sessões que o revisor Ricardo
Lewandowski estava fazendo "vista grossa" a evidências do processo do
mensalão.
Dono de um amplo currículo, o mineiro, Joaquim Benedito Barbosa Gomes
nasceu em 07 de outubro de 1954 na cidade de Paracatu-MG, onde fez os
estudos primários. Aos dezesseis anos foi morar sozinho em Brasília e lá
deu continuidade aos estudos. Fez também estudos complementares de
línguas estrangeiras no Brasil, na Inglaterra, nos Estados Unidos, na
Áustria e na Alemanha. Ele é Doutor e Mestre em Direito Público pela
Universidade de Paris-II (Panthéon-Assas) e Professor licenciado da
Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Primeiro ministro negro do STF, desde abril de 2012, Joaquim Barbosa
ocupa o cargo de vice-presidente. Tomou posse em junho de 2003, ano do
primeiro mandado do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, que o nomeou.
Relator e revisor de várias pautas do STF, constantemente Joaquim é
matéria de jornais e revistas por sua postura ética e sincera. Devido à
complexidade e ao fato de que o caso envolve vários políticos do alto
escalão, a relatoria da denúncia contra os quarenta acusados do
mensalão lhe possibilita uma alta visibilidade em torno de sua atuação
no STF.
Algumas pessoas consideram que ele é uma liderança “heróica” que
conseguiu vencer as barreiras do racismo no país. Joaquim Barbosa é uma
referencia na busca pela elevação da autoestima da população negra, sua
trajetória de vida é um elemento motivador. Apesar do constante debate
acerca da autoestima do negro/negra em um contexto histórico e
contemporâneo marcado pela opressão e a exclusão racial, vale
acrescentar uma definição sobre autoestima. De acordo com o site
Relações Raciais na Escola, a mesma é definida como:
“Sentimento e opinião que cada pessoa tem de si mesma. É na
infância, no contato com o outro, que construímos ou não a nossa
autoconfiança. (...) O processo psicológico é um dos aspectos mais
importantes da autoestima, pois conduz as relações interpessoais. As
formas como nos relacionamos como o outro em muitas situações geram
falsos valores. Então o caminho para construção da autoestima está
calcado em uma sociedade mais justa e igualitária, no reconhecimento e
valores de cada indivíduo como um ser essencial.”
A construção da autoestima da população negra brasileira é
constantemente testada pelo mito da democracia racial. Além disso, as
elites dominantes utilizam mecanismos que tentam manter a população
negra numa “servidão mental perpétua”. Divulgam uma história que não
está pautada nas histórias dos povos africanos e das diásporas negras.
Faltam referenciais negros nos livros didáticos, a mídia submete um
“quase lugar” ao povo negro e tenta impor um padrão de beleza homogêneo
eurocêntrico, ignorando a diversidade racial que caracteriza o país.
Somente a reconstrução de uma nova consciência será capaz de alterar o
processo desumano de uma sociedade desigual que não os (as) estimula e
nem respeita.
Joaquim Barbosa pode ser o relator da primeira oportunidade do STF,
desde sua criação em 1824, a condenar um político no país. Por não
tolerar a postura de alguns dos seus colegas, Barbosa envolve-se em
debates tidos como pessoais e polêmicos. As opiniões divergentes são
importantes na condução das decisões do STF. Em novembro de 2012 deve
assumir a presidência do STF, com a aposentadoria do ministro Ayres
Britto. Barbosa é o candidato natural a assumir o comando do Supremo,
conforme tradição da sucessão entre os ministros.
Entretanto, a condução de Barbosa à presidência do STF está ameaçada,
visto que a mesma precisa ser confirmada por votação entre os ministros
da Corte. Para a população negra brasileira, ter um “dos seus” pela
primeira vez neste cargo será um importante marco para elevação da
autoestima.
As elites e parte da impressa temem o “Ministro Negão” e começam a
investir em uma espécie de campanha de difamação, rotulando-o como um
homem descontrolado e de temperamento explosivo. Bastante significativo é
o fato de que tais rótulos vem sendo historicamente utilizados para
desqualificar homens e mulheres negras, como subumanos incapazes de
raciocinar de forma objetiva, serena e imparcial. O Ministro Joaquim,
por outro lado, defende-se ao dizer que não tolera hipocrisia.
Seguimos atentos (as) na condução desse importante passo que está
próximo de tornar-se realidade. Existem outros “Joaquins” e “Joaquinas”
que seguirão a trilha galgada pela luta do movimento negro, na busca da
implementação de políticas de ações afirmativas. Assim como Barbosa,
contrariem as estatísticas por um Brasil menos desigual racialmente.
Agradecimento especial à Raquel de Souza pela contribuição neste texto.
- Para saber mais sobre o Ministro Joaquim Barbosa - http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=bibliotecaCon...
- Conheça o STF (Supremo Tribunal Federal) (site) - http://www.stf.jus.br
- Definição de autoestima: http://www.relacoesraciaisnaescola.org.br/site/glossario.html
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George Oliveira
Economista
Militante do Movimento Negro
Mestrando do CIAGS/UFBA
grbo2003@yahoo.com.br
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