“Alguém que já viveu e que já acumulou experiências e ensinamentos tem a oferecer,
tem a dar. E também é um portador de toda uma história que foi acumulada.
Por isso que tomar bença significa receber a vibração positiva dessas pessoas.
A bença serve pra quem é abençoado; não pra quem põe a bença”,
Makota Valdina, educadora, religiosa e líder comunitária
O Bando de Teatro Olodum entra em cartaz, em maio, com BENÇA. O espetáculo instalação, que tem o patrocínio da Petrobras, através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, entra em cartaz a partir de 06 de maio, às 20h, no Teatro Vila Velha. O respeito aos mais velhos e ao tempo é o tema da peça que valoriza a memória cultural da população afro-brasileira. Em cena, os 17 atores e dois músicos contracenam com os depoimentos em vídeo os músicos Bule-Bule e Cacau do Pandeiro e as religiosas Dona Denir, Ebomi Cici, Makota Valdina e Mãe Hilza, figuras emblemáticas e guardiãs dessa cultura.
Em cartaz até 29 de maio, sempre às sexta e sábados, às 20h, e domingos, às 17h, BENÇA tem concepção e encenação de Márcio Meirelles. “Esse trabalho é um espetáculo instalação, que fomos descobrindo como fazer durante o próprio processo”, reflete Meirelles. “Agora estamos investigando essa relação de nossa dramaturgia com as novas tecnologias, usando os depoimentos, o audiovisual, o universo virtual como parte da narrativa cênica”, completa. Os fragmentos de diálogos ganham corpo num palco com 20 metros de boca de cena com platéia de dois lados. Nesse espaço, as três projeções de vídeos simultâneas conduzem o espectador, que pode escolher qual deles acompanhar.
São sete temas principais que correspondem a sete diferentes blocos: Começo, Tempo, Mais Velhos, Respeito, Crianças, Morte e Fim. Meia hora antes do começo da peça, a ação já está em andamento – enquanto a platéia vai se acomodando, os atores, no tablado, cantam e tocam tambores e atabaques. Nos telões, imagens de atores negros que começaram a atuar antes de 1990, ano de surgimento do Bando de Teatro Olodum. Para completar, dois componentes do elenco filmam a entrada do público, com transmissão simultânea. A partir daí, a cada bloco dois atores se revezam na filmagem do próprio espetáculo.
Com linguagem contemporânea e não linear, a peça, ao falar dos mais velhos, trata a passagem do tempo como algo construtivo e enriquecedor. Não um tempo cronológico que simplesmente passa, mas o tempo das coisas, ou seja, ele é circular e traz benefícios.
“O tempo, pra cultura Banto, é muito profundo e envolve a formação de tudo, já que não é só o tempo do homem. É aí que entra a ancestralidade. Quando se diz que os Orixás são ancestrais é porque eles vieram antes do ser humano, assim como a natureza veio antes do ser humano. Foram eles que possibilitaram o nascimento da vida humana e o seu desenvolvimento. A gente é o resultado de toda essa natureza criada antes e essa essência de ancestralidade, portanto, deve ser respeitada”, Makota Valdina
Com isso, a montagem também fala da importância de saber envelhecer bem. “Nas entrevistas, encontramos líderes que parecem resistir ao extremo e se mantêm vivos apenas esperando que alguém chegue para substituí-los. Isso resume bem o nosso trabalho de garimpagem do conhecimento – um conhecimento que não se encontra nos livros e que acaba se perdendo se não for repassado às vezes, fisicamente, para as novas gerações”, afirma a diretora de produção, Chica Carelli. Nesse sentido, “saber envelhecer bem” pode ser interpretado como aprender a entender, a dosar e a dominar o tempo. Na fala do cordelista Bule Bule, “quem sabe viver espera a morte com grandeza e produz bastante, até no último momento. Deixa um legado para se comentar e continua vivendo através da sua obra em outras matérias. Se for manso com o tempo, convive com ele e chega onde deseja”, diz o artista popular.
“Tem coisa na juventude que não consigo entender
Velho ninguém quer ficar
Novo ninguém quer morrer
A melhor coisa da vida é ficar velho e viver”,
Bule Bule
Para Cacau do Pandeiro, uma dos músicos mais virtuosos da Bahia, a morte é uma das etapas do processo natural da vida e deve ser encarada com alegria. “Quem parte cedo é porque não teve aquele merecimento de ficar velho e aí tem que morrer”, diz ele. O espetáculo mostra que o corpo físico desaparece e se transforma, mas que a essência de cada um é eterna.
Ao retomar o respeito aos mais velhos como uma necessidade, BENÇA fala também das crianças. “Na minha família, o reconhecimento do saber dos idosos sempre foi natural. Minha bisavó era a vedete da contação de histórias e todo mundo ficava quieto para ouvir”, diz o coreógrafo Zebrinha, que acaba de receber o Prêmio Branskem de Teatro pela coreografia de BENÇA. Ele complementa com um alerta: “os velhos precisam ser preservados mesmo como pessoas físicas”. De fato, o pensamento corrobora com a fala de Makota Valdina em um dos vídeos quando ela lembra que em tempos passados a relação com a antiguidade envolvia uma reverência mais forte. “Dá-se muito valor ao que é novo, ao que é moderno, mas o que é velho está ficando em desuso”, afirma a educadora.
Com essa energia ancestral de Orixá, tudo conspira a favor de uma justa homenagem à companhia negra mais popular e expressiva da história do teatro na Bahia.
O Projeto:
O espetáculo “Bença” faz parte de um projeto maior chamado “Respeito aos Mais Velhos”, que ganhou, há dois anos, o edital de manutenção de grupos e companhias de teatro e dança do Programa Petrobras Cultural. As cidades de Salvador, Ilhéus, Feira de Santana, Rio de Janeiro e São Luís do Maranhão receberam workshops de memória e identidade, dança, teatro e música com foco no resgate cultural e na sabedoria popular – sempre abertos ao público. A mesma equipe que ministrava os workshops realizava as pesquisas e entrevistas mostradas em BENÇA, além de apresentar espetáculos do seu repertório. Já os seminários aconteceram em Salvador, com os seguintes temas: Patrimônio Imaterial, Quilombos Urbanos, História da Ocupação Territorial do Povo Negro e Registro de Memórias e Tradições.
NOVA TEMPORADA
O espetáculo BENÇA foi visto por 2.573 pessoas somente em sua temporada de estréia, em novembro de 2010. Depois se apresentou no Rio, no Espaço Tom Jobim. A peça, comemorativa dos 20 anos do Bando, gerou matérias em jornais e revistas locais e nacionais, e críticas elogiosas ao trabalho do grupo e à peça, além de receber quatro indicações ao Prêmio Braskem, a mais importante premiação do teatro baiano, nas categorias: Melhor Espetáculo, Melhor Diretor (Márcio Meirelles), e Categoria Especial com Jarbas Bitencourt, pela direção musical, e Zebrinha, pela coreografia.
Apesar de ter tido em torno de 100 por cento de sua platéia ocupada, muitas pessoas ficaram sem ver o espetáculo. Inclusive muitos daqueles que são detentores do conhecimento sobre os temas que são tratados na peça e que ajudaram na sua construção, como fonte de pesquisa.
Em maio, na nova temporada, o Bando e a Petrobras trarão convidados dos lugares que foram visitados com o projeto, onde foi apresentado o repertório e feita a pesquisa. Pessoas ligadas ao culto afro de importantes instituições religiosas de São Luiz do Maranhão, Ilhéus e Feira de Santana vão conferir o fruto do trabalho que ajudaram a construir. Estão sendo convidados também, dentro de uma cota de convites, pessoas do culto afro de vários terreiros de Salvador. A prefeitura de Cachoeira já garantiu a vinda da centenária Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, uma das mais importantes manifestações religiosas afro-brasileira. Outras prefeituras e instituições ligadas à cultura negra e aos mais velhos podem entrar em contato com o Bando.
Pensando nestes convidados especiais da plateia, o Bando apresentará BENÇA mais cedo aos domingos: às 17h, facilitando o deslocamento dos mais velhos.
SERVIÇO
BENÇA
Estreia dia 06 de maio
Sextas e sábados, 20h / domingos, 17h ATÉ 29 DE MAIO
Os ingressos custam R$40 inteira e R$20 meia todos os dias.
Promoção
Os 50 primeiros ingressos, de cada sessão, serão disponibilizados a R$ 15 (preço único). Até 24h antes de cada espetáculo.
Instituições e escolas terão descontos na compra acima de 20 ingressos. Cada ingresso ficará no valor de R$ 15 (preço único).
Realização: Bando de Teatro Olodum e Teatro Vila Velha
Tel: 71. 3083-4607
E-mail: bando2@gmail.com
blog: www.bandodeteatro.blogspot.com