Parece que foi ontem que fomos seqüestrados de nossa pátria mãe e dolorosamente separados de nossos filhos, mulheres, pais e maridos, jogados aos porões de embarcações infectas e apertadas, sob a promessa de uma vida desconhecida e dependente da boa vontade de outrem.
Foi neste momento então que, entre lágrimas, sangue e suor, olhamo-nos, atônitos, sem entendimento do cenário que se apresentava aos nossos olhos, no meio do balançar das ondas do grande mar. Misturaram-nos em línguas e etnias, de modo inteligente e cruel, para que não nos entendêssemos inicial e verbalmente, muito embora a linguagem do coração sempre tenha sido universal e, neste momento, nos comunicássemos livremente através dela.
Desembarcamos em um universo distante e novo, cuspidos em terra firme pelas enormes vagas deste oceano cabralino, negro como nós, de dentro dos cascos, tal como se fôramos paridos em lugares tão longínquos e inóspitos pelos uterinos navios, como enormes tartarugas de madeira.
Parece que tudo começou, então, ontem mesmo, quando fomos lavados e escovados como cavalos de raça, dos quais herdamos pejorativamente até mesmo a alcunha de crioulos e lá fomos nós, atados uns aos outros, à espera de uma resposta plausível para tanto horror.
Nos abriram as bocas e examinaram nossos dentes como simplicidade. Avaliaram nosso estado externo geral do desprezo por nossas combalidas almas, tão atordoadas pelos maus tratos e pela nua crueza da situação. Nunca, de fato, se conseguirá compreender o sentido deste tão odiento flagelo – pois a diáspora do povo negro pelo mundo tem sido o maior genocídio da história humana, não obstante o fato de que não estamos cegos para o sofrimento da humanidade como um todo e de termos plena noção da importância de grandes fatos históricos abomináveis como o extermínio dos judeus na Segunda Grande Guerra Mundial, as guerras étnicas no Oriente Médio e tantos outros conflitos de teor sócio-ideológico espalhados pelo mundo, que só geraram sofrimento e dor àqueles que a eles foram e ainda são submetidos ao longo do povoamento do planeta Terra.
Parece que foi ontem mesmo, de tardinha, que nos vimos banhados e vestidos como europeus, adequando-nos às novas condições de temperatura e pressão do Novo Mundo, passeando com as sinhás sentadas em suas liteiras, carregando suas crianças, servindo aos seus maridos e tocando o crescimento da civilização brasileira, unidos aos nativos, aos estrangeiros e aos nossos irmãos de cor.
E à medida em que o tempo foi passando, fomos nos aclimatando, misturando nossas crenças e lendas às crenças e lendas de outras paragens, dando origem aos nossos próprios costumes, desta mistura nascidos, dentro deste imenso caldeirão cultural que emergia da Terra Brasilis. Fomos, aos poucos, tomando gosto pelo chão de terra batida deste lugar, e gerações vieram, após a nossa geração, já nascidas neste latifúndio, já donas deste mesmo chão de terra batida, mas não donas de si mesmas ainda.
Revoluções explodiram por todo o mundo, penas assinaram importantes documentos e homens deram suas vidas pelo ideal, e de repente nos vimos, com júbilo, donos de nós mesmos, livres pra fazermos nossas próprias escolhas e determinarmos o rumo de nossas vidas.
Parece que foi ontem, no entanto, que os mocambos, senzalas e quilombos se transformaram paulatinamente nas favelas de hoje, onde os descamisados se abrigaram para morarem perto do trabalho, por não terem para onde ir, para se unirem aos que lá já estavam à sua espera.
E a vida seguiu rumo, fervorosa, caótica, desigual, injusta e justa sempre. O país proclamou-se independente e deixou de ser colônia, os escravos, nossos avós, e bisavós, e tataravôs, foram libertados, e o mundo girou. Muitos sentaram-se à mesa das discussões nacionais, onde o destino de uma nação se decidiria. Alguns pensaram em nós como parte integrante do povo, e outros, não o fizeram.
Parece também que foi ontem que nos descobrimos em mais da metade da população, muito embora os critérios de julgamento da cor da pele neste país sejam absolutamente relativos, dada a miscigenação, os novos conceitos de valoração da questão étnica que nos referenciam os fenótipos e aos genótipos e nos dizem que ser afro-descendente nem sempre significa ser negro, e, principalmente, dado o incrivelmente sagaz preconceito racial que assola este país até hoje, e que nos mantém presos aos grilhões de outrora, ora sob uma égide paternalista que permanece viva retro-alimentada por um ranço comodista de nossa própria responsabilidade, ora sob um fino véu que encobre um profundo racismo embutido nas relações sociais do Brasil, um país imenso construído sob tais bases enquanto nação.
Parece que foi ontem que vimos, com alegria, curiosidade e imensa expectativa, a criação da Unipalmares, a primeira universidade no Brasil construída venalmente sob os princípios da liberdade, da igualdade e da fraternidade, no sentido de dar oportunidades iguais àqueles que desiguais são.
Parece-me também que foi ontem mesmo que o convite para estar hoje aqui, falando para vocês palavras tão emocionadas e sinceras, me foi feito, tamanho o frescor e a vivacidade que encontro neste exato momento em meu coração de 75 anos – é uma honra e um prazer insubstituíveis para mim estar aqui, e posso ainda dizer que é um dos momentos mais marcantes da minha vida participar da formatura da primeira turma de Administração da Unipalmares.
Foi me pedido dizer-lhes algumas frases de incentivo, e busquei dentro de mim o mais visceral discurso, os mais belos termos da língua portuguesa, a emoção mais delicada que se pode ter ao ver tantos rostos negros jovens, esperançosos, na ânsia de contribuírem para a criação de um país melhor e mais nosso. Mas confesso que nada existe de mais precioso no mundo do que o brilho no olhar de vocês, formandos, com o futuro todo à sua frente, com seus corações repletos de paixão e energia, e palavra alguma substituiria isso. Vocês, formandos, representam o verdadeiro orgulho da raça, e é através de vocês que me vejo espelhado, um rapazote de vinte e poucos anos, com essa mesma esperança no peito, latejante mantida até hoje, em todo e qualquer projeto que realizo.
Por isso tudo, parece que foi ontem que tudo isso começou, e, no entanto, o tempo, veloz, só me permite agora relembrar que devemos, em primeiro lugar, agradecer àqueles primeiros de nós que vieram espremidos nos porões e aos quais devemos o orgulho de estarmos aqui nesta noite brilhante, cheia de estrelas no céu e à minha frente. Vossos canudos, tão arduamente conquistados, são vossas verdadeiras cartas de alforria. Façam bom uso deles, pois agora vocês são, verdadeiramente, donos de si mesmos.
Desejo a vocês, formandos, e às suas famílias, e aos seus professores, que nunca permitam que este sonho morra, que esta gana esmoreça, nem que tudo isto que foi construído à custa de tantas vidas no passado venha desaparecer. Unam-se à luta por um Brasil melhor, sem grilhões, onde possamos falar a mesma língua, onde se possa caminhar à frente sempre, onde diferenças conjunturais não interfiram de maneira depreciativa na estrutura social de um país que ainda tem tanto a oferecer aos seus irmãos internacionais e à sua população, traduzido em melhores condições de vida, de trabalho e de projetos sociais.
Espero que agora, com vossos diplomas, tão merecidamente, vocês, formandos da primeira turma universitária da Unipalmares, a primeira faculdade no Brasil a ensinar sob a chancela da ação afirmativa, possam encontrar, para vocês e para todos nós, brasileiros, o caminho, a estrada da liberdade plena, o cumprimento constitucional da igualdade perante a lei, o fim da busca, nesta nossa interminável, laboriosa e cheia de glória diáspora, a nossa Canaã, a NOSSA Terra Prometida.
Obrigado, de coração, por enfim, me libertarem também dos grilhões da ignorância aos quais fomos todos acorrentados no passado.
Livres, enfim.
Obrigado, meu Deus, estamos livres, enfim!”
FONTE: Bureau Polcomune, Retrospecto Afro-social, 152, 3ª ed., 13-14 mar. 2008.
REVOLUÇÃO QUILOMBOLIVARIANA !
ResponderExcluirA COMUNIDADE NEGRA AFRO-LATINA BRASILEIRA
APOIA E É SOLIDARIA AO POVO PALESTINO.VIVA A PALESTINA!
Viva! Chàvez! Viva Che!Viva! Simon Bolívar! Viva! Zumbi!
Movimento Chàvista Brasileiro
Manifesto em solidariedade, liberdade e desenvolvimento dos povos afro-ameríndio latinos, no dia 01 de maio dia do trabalhador foi lançado o manifesto da Revolução Quilombolivariana fruto de inúmeras discussões que questionavam a situação dos negros, índios da América Latina, que apesar de estarmos no 3º milênio em pleno avanço tecnológico, o nosso coletivo se encontra a margem e marginalizados de todos de todos os benefícios da sociedade capitalista euro-americano, que em pese que esse grupo de países a pirâmide do topo da sociedade mundial e que ditam o que e certo e o que é errado, determinando as linhas de comportamento dos povos comandando pelo imperialismo norte-americano, que decide quem é do bem e quem do mal, quem é aliado e quem é inimigo, sendo que essas diretrizes da colonização do 3º Mundo, Ásia, África e em nosso caso América Latina, tendo como exemplo o nosso Brasil, que alias é uma força de expressão, pois quem nos domina é a elite associada à elite mundial é de conhecimento que no Brasil que hoje nos temos mais de 30 bilionários, sendo que a alguns destes dessas fortunas foram formadas como um passe de mágica em menos de trinta anos, e até casos de em menos de 10 anos, sendo que algumas dessas fortunas vieram do tempo da escravidão, e outras pessoas que fugidas do nazismo que vieram para cá sem nada, e hoje são donos deste país, ocupando posições estratégicas na sociedade civil e pública, tomando para si todos os canais de comunicação uma das mais perversas mediáticas do Mundo. A exclusão dos negros e a usurpação das terras indígenas criaram-se mais e 100 milhões de brasileiros sendo estes afro-ameríndios descendentes vivendo num patamar de escravidão, vivendo no desemprego e no subemprego com um dos piores salários mínimos do Mundo, e milhões vivendo abaixo da linha de pobreza, sendo as maiores vitimas da violência social, o sucateamento da saúde publica e o péssimo sistema de ensino, onde milhões de alunos tem dificuldades de uma simples soma ou leitura, dando argumentos demagógicos de sustentação a vários políticos que o problema do Brasil e a educação, sendo que na realidade o problema do Brasil são as péssimas condições de vida das dezenas de milhões dos excluídos e alienados pelo sistema capitalista oligárquico que faz da elite do Brasil tão poderosa quantos as do 1º Mundo. É inadmissível o salário dos professores, dos assistentes de saúde, até mesmo da policia e os trabalhadores de uma forma geral, vemos o surrealismo de dezenas de salários pagos pelos sistemas de televisão Globo, SBT e outros aos seus artistas, jornalistas, apresentadores e diretores e etc.
Manifesto da Revolução Quilombolivariana vem ocupar os nossos direito e anseios com os movimentos negros afro-ameríndios e simpatizantes para a grande tomada da conscientização que este país e os países irmãos não podem mais viver no inferno, sustentando o paraíso da elite dominante este manifesto Quilombolivariano é a unificação e redenção dos ideais do grande líder zumbi do Quilombo dos Palmares a 1º Republica feita por negros e índios iguais, sentimento este do grande líder libertador e construí dor Simon Bolívar que em sua luta de liberdade e justiça das Américas se tornou um mártir vivo dentro desses ideais e princípios vamos lutar pelos nossos direitos e resgatar a história dos nossos heróis mártires como Che Guevara, o Gigante Osvaldão líder da Guerrilha do Araguaia. São dezenas de histórias que o Imperialismo e Ditadura esconderam. Há mais de 160 anos houve o Massacre de Porongos os lanceiros negros da Farroupilha o que aconteceu com as mulheres da praça de 1º de maio? O que aconteceu com diversos povos indígenas da nossa América Latina, o que aconteceu com tantos homens e mulheres que foram martirizados, por desejarem liberdade e justiça? Existem muitas barreiras uma ocultas e outras declaradamente que nos excluem dos conhecimentos gerais infelizmente o negro brasileiro não conhece a riqueza cultural social de um irmão Colombiano, Uruguaio, Venezuelano, Argentino, Porto-Riquenho ou Cubano. Há uma presença física e espiritual em nossa história os mesmos que nos cerceiam de nossos valores são os mesmos que atacam os estadistas Hugo Chávez e Evo Morales Ayma,Rafael Correa, Fernando Lugo não admitem que esses lideres de origem nativa e afro-descendente busquem e tomem a autonomia para seus iguais, são esses mesmos que no discriminam e que nos oprime de nossa liberdade de nossas expressões que não seculares, e sim milenares. Neste 1º de maio de diversas capitais e centenas de cidades e milhares de pessoas em sua maioria jovem afro-ameríndio descendente e simpatizante leram o manifesto Revolução Quilombolivariana e bradaram Viva a,Viva Simon Bolívar Viva Zumbi, Viva Che, Viva Martin Luther King, Viva Osvaldão, Viva Mandela, Viva Chávez, Viva Evo Ayma, Viva a União dos Povos Latinos afro-ameríndios, Viva 1º de maio, Viva os Trabalhadores e Trabalhadoras dos Brasil e de todos os povos irmanados.
O.N.N.QUILOMBO –FUNDAÇÃO 20/11/1970
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