Este  texto é um manifesto escrito e subscrito por brancos que compõem a  comunidade escolar da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ele é  uma retumbante admissão pública, por nossa parte, de que vivemos em um  contexto de exclusão estrutural de negros e indígenas dos benefícios e  espaços de cidadania produzidos por nossa sociedade e onde, ao mesmo  tempo, é produzida uma teia de privilégios a nós brancos, que torna  completamente desigual e desumana nossa convivência. Somos opressores,  exploradores e privilegiados mesmo quando não queremos ser. O racismo  não é um "problema dos negros", mas também dos brancos. É pelo  reconhecimento destes privilégios que marcam toda nossa existência,  mesmo que nós brancos não os enxerguemos cotidianamente, que exigimos a  imediata aprovação de Ações afirmativas de Reparação às populações  negras e indígenas na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
No Brasil vivemos em um estado de racismo estrutural. Já é comprovado que raça é um conceito biologicamente inadmissível, só existe raça humana e pronto. Mas socialmente, nos vemos e construímos nossa realidade diária em cima de concepções raciais. Portanto, raça é uma realidade sociológica. Não é uma questão de que eu ou você sejamos pessoalmente preconceituosos. Mas é só olhar para qualquer pesquisa que veremos como existe um processo de atração e exclusão de pessoas para estes ou aqueles espaços sociais, dependendo de sua cor. Não é à toa que não temos quase médicos negros, embora eles sejam a maioria nas filas dos postos de saúde; que quase não vemos jornalistas negros, mas estes são expostos diariamente em páginas policiais; que não temos quase professores negros, especialmente em posições com melhores salários, e vemos alunos negros apenas em escolas públicas enquanto, na universidade pública quase só encontramos brancos.
A situação dos indígenas não é diferente, quando eles ainda sofrem lutando pelo direito mínimo de ter suas terras e aldeias, mesmo isso lhes é surrupiado pelos brancos. Vamos parar com esta falácia de dizer que não aceitamos cotas raciais na universidade, porque não queremos ser racistas: se vivemos no Brasil, se fomos criados nesta cultura, se construímos nossas vidas dentro deste conjunto de relações onde a raça é um elemento determinante, somos todos racistas! Não fujamos da realidade. Não usemos a falsa desculpa de que não queremos criar divisões entre raças no Brasil. Nossa sociedade poderia ser mais dividida racialmente do que já é hoje?
No Brasil vivemos em um estado de racismo estrutural. Já é comprovado que raça é um conceito biologicamente inadmissível, só existe raça humana e pronto. Mas socialmente, nos vemos e construímos nossa realidade diária em cima de concepções raciais. Portanto, raça é uma realidade sociológica. Não é uma questão de que eu ou você sejamos pessoalmente preconceituosos. Mas é só olhar para qualquer pesquisa que veremos como existe um processo de atração e exclusão de pessoas para estes ou aqueles espaços sociais, dependendo de sua cor. Não é à toa que não temos quase médicos negros, embora eles sejam a maioria nas filas dos postos de saúde; que quase não vemos jornalistas negros, mas estes são expostos diariamente em páginas policiais; que não temos quase professores negros, especialmente em posições com melhores salários, e vemos alunos negros apenas em escolas públicas enquanto, na universidade pública quase só encontramos brancos.
A situação dos indígenas não é diferente, quando eles ainda sofrem lutando pelo direito mínimo de ter suas terras e aldeias, mesmo isso lhes é surrupiado pelos brancos. Vamos parar com esta falácia de dizer que não aceitamos cotas raciais na universidade, porque não queremos ser racistas: se vivemos no Brasil, se fomos criados nesta cultura, se construímos nossas vidas dentro deste conjunto de relações onde a raça é um elemento determinante, somos todos racistas! Não fujamos da realidade. Não usemos a falsa desculpa de que não queremos criar divisões entre raças no Brasil. Nossa sociedade poderia ser mais dividida racialmente do que já é hoje?
O estudo de  Marcelo Paixão intitulado "Racismo, pobreza e violência", compara o IDH  dos brancos e dos negros dentro do Brasil. O IDH tenta medir a qualidade  de vida das populações, combinando os três fatores que, por abranger,  cada qual, uma imensa variedade de outros, seriam os essenciais para a  medição: renda por habitante, escolaridade e expectativa de vida. Na  última versão do IDH, de 2002, o Brasil ocupa o 73º lugar entre 173  países avaliados, mesmo possuindo todas as riquezas nacionais e sendo o  11º país mais desenvolvido economicamente no mundo. Porém, entre 1992 e  2001, enquanto em geral o número de pobres ficou 5 milhões menor, o dos  pretos e pardos ficou 500 mil maior. [Consideram-se brancos 53,7% dos  brasileiros; pretos ou pardos, 44,7%, que chamaremos, hora em diante de  negros]. O estudo mostra que Brasil dos brancos seria, na média o 44º do  mundo em matéria de desenvolvimento humano, ao passo que o Brasil dos  negros estaria no 104º lugar!!!
Nada disso é novidade, porém, para quem aceita viver com os olhos minimamente abertos. Temos que reconhecer que vivemos num sistema estruturalmente racista, que se reproduz em cima de mecanismos constantes de exclusão e exploração dos negros e de privilégios naturalizados aos brancos. Em um sistema racista, pessoas brancas se beneficiam do racismo, mesmo que não tenham intenções de serem racistas. Nós brancos não precisamos enxergar o racismo estrutural porque não sofremos diariamente diversos processos de exclusão e tratamento negativamente diferencial por causa de nossa raça. Nossa raça (e seus privilégios) são tornados invisíveis dia-a-dia. Este sistema de privilégios invisíveis a nós brancos é que nos põe em vantagens a todo instante, por toda nossa vida, em todas as situações, e que destroça qualquer tentativa de pensarmos que estamos onde estamos apenas por méritos pessoais. Que mérito puro pode ter qualquer branco de estar no lugar confortável em que se encontra hoje, mesmo que tenha saído da pobreza, dentro de um sistema que lhe privilegiou apenas por ser branco, ao mesmo tempo em que prejudicou outros tantos apenas por serem negros?
Nada disso é novidade, porém, para quem aceita viver com os olhos minimamente abertos. Temos que reconhecer que vivemos num sistema estruturalmente racista, que se reproduz em cima de mecanismos constantes de exclusão e exploração dos negros e de privilégios naturalizados aos brancos. Em um sistema racista, pessoas brancas se beneficiam do racismo, mesmo que não tenham intenções de serem racistas. Nós brancos não precisamos enxergar o racismo estrutural porque não sofremos diariamente diversos processos de exclusão e tratamento negativamente diferencial por causa de nossa raça. Nossa raça (e seus privilégios) são tornados invisíveis dia-a-dia. Este sistema de privilégios invisíveis a nós brancos é que nos põe em vantagens a todo instante, por toda nossa vida, em todas as situações, e que destroça qualquer tentativa de pensarmos que estamos onde estamos apenas por méritos pessoais. Que mérito puro pode ter qualquer branco de estar no lugar confortável em que se encontra hoje, mesmo que tenha saído da pobreza, dentro de um sistema que lhe privilegiou apenas por ser branco, ao mesmo tempo em que prejudicou outros tantos apenas por serem negros?
Vamos  apresentar uma breve listinha de circunstâncias em nossas vidas que  expõem nossos privilégios de brancos e que, embora não percebêssemos,  embora os víssemos apenas como relações naturais para nós, por sermos  pessoas normais e "de bem", foram decisivas para nos trazer onde estamos  (e por não serem vivenciados também por negros e indígenas, seu  resultado é fazer com que seja tão desproporcional o número destas  populações dentro da UFRGS, por exemplo): 1) Sempre pude estar seguro de  que a cor da minha pele não faria as pessoas me tratarem diferentemente  na escola, no ônibus, nas lojas, etc; 2) Estou seguro de que a cor da  pele dos meus pais nunca os prejudicou em termos das busca ou da  manutenção de um emprego; 3) Estou seguro de que a cor da pele dos meus  pais nunca fez com que seu salário fosse mais baixo que o de outra  pessoa cumprindo sua mesma função; 4) Posso ligar a televisão e ver  pessoas de minha raça em grande número e muitas em posições sociais  confortáveis e que me dão perspectivas para o futuro; 5) Na escola,  aprendi diversas coisas inventadas, descobertas, grandes heróis e  grandes obras feitas por pessoas da minha raça; 6) A maior parte do  tempo, na escola, estudei sobre a história dos meus antepassados e, por  saber de onde eu vim, tenho mais segurança de quem sou e pra onde posso  ir; 7) Nunca precisei ouvir que no meu estado não existiam pessoas da  minha raça; 8) Nunca tive medo de ser abordado por um policial motivado  especialmente pela cor da minha pele; 9) Já fiz coisas erradas e mesmo  ilegais por necessidade, e nunca tive medo que minha raça fosse um  elemento que reforçasse minha possível condenação; 10) Posso ir numa  livraria e perder a conta de quantos escritores de minha raça posso  encontrar, retratando minha realidade, assim como em qualquer loja e  encontrar diversos produtos que respeitam minha cultura; 11) Nunca sofri  com brincadeiras ofensivas por causa de minha raça; 12) Meus pais nunca  precisaram me atender para aliviar meu sofrimento por este tipo de  "brincadeira"; 13) Sempre tive professores da minha raça; 14) Nunca me  senti minoria em termos da minha raça, em nenhuma situação; 15) Todas as  pessoas bem sucedidas que eu conheci até hoje eram da mesma raça que  eu; 16) Posso falar com a boca cheia e ficar tranqüilo de que ninguém  relacionará isso com minha raça; 17) Posso fazer o que eu quiser, errar o  quanto quiser, falar o que eu quiser, sem que ninguém ligue isso a  minha raça; 18) Nunca, em alguma conversa em grupo, fui forçado a falar  em nome de minha raça, carregando nas costas o peso de representar 45%  da população brasileira; 19) Sempre pude abrir revistas e jornais, desde  minha infância, e estar seguro de ver muitas pessoas parecidas comigo;  20) Sempre estive seguro de que a cor da minha pele não seria um  elemento prejudicial a mim em nenhuma entrevista para emprego ou  estágio; 21) Se eu declarar que "o que está em jogo é uma questão  racial" não serei acusado de estar tentando defender meu interesse  pessoal; 22) Se eu precisar de algum tratamento medico tenho convicção  de que a cor da minha pele não fará com que meu tratamento sofra  dificuldades; 23) Posso fazer minhas atividades seguro de que não  experienciarei sentimentos de rejeição a minha raça.
Esta realidade  destroça meu mito pessoal de meritocracia. Minha vida não foi o que eu  sozinho fiz dela. Muitas portas me foram abertas baseadas na minha raça,  assim como fechadas a outras pessoas. A opção de falar ou não em  privilégios dos brancos já é um privilegio de brancos. Se o racismo, e  os privilégios dos brancos são estruturais, as ações contra o racismo  devem ser também estruturais. Racismo não é preconceito: racismo é  preconceito mais poder. Se não forçarmos mudanças nas relações e  posições de poder em nossa sociedade, estaremos reproduzindo o racismo  que recebemos. E agora chegou a hora de a universidade dizer  publicamente: vai ou não vai "cortar na própria pele" o racismo que até  hoje ajudou a reproduzir, estabelecendo imediatamente Cotas no seu  próximo vestibular? Se mantivermos o vestibular "cego às desigualdades  raciais" estaremos, na verdade, mantendo nossos olhos fechados para as  desigualdades raciais que nós mesmos ajudamos a reproduzir sociedade  afora.
Nós, brancos da universidade que assinamos esta carta já nos posicionamos: exigimos cortar em nossa própria pele os privilégios que até hoje nos sustentaram. Cotas na UFRGS já!
Nós, brancos da universidade que assinamos esta carta já nos posicionamos: exigimos cortar em nossa própria pele os privilégios que até hoje nos sustentaram. Cotas na UFRGS já!
Leia materia completa: Manifesto dos Brancos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. | Portal Geledés
 
 
   
 
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