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08/05/11
João Carlos Sampaio
08/05/11
João Carlos Sampaio
Sem contar com exibição regular na época do seu lançamento, O Leão de Sete Cabeças (Der Leone Have Sept Cabeças, 1970) é um dos filmes menos vistos da obra de Glauber Rocha. É que a obra data de uma época em que o País enfrentou o auge do cerceamento da liberdade de expressão promovido pela ditadura militar. Um cenário inóspito para o teor libertário da película, cheia de interpretações políticas pouco convenientes.
A reapresentação do filme na programação desta semana da Sala Walter da Silveira (Barris) é mais uma chance para o espectador baiano conhecer as sete cabeças deste leão-esfinge de Glauber Rocha. A cópia é nova, nasceu de um trabalho de restauração criterioso, utilizando matrizes originais da Cineteca Nazionale di Roma (Itália).
O milagroso renascimento da película se deu com projeção no Festival de Brasília, em novembro passado. Logo depois, a fita foi relançada em sessão especial na Bahia, seguida de curta temporada de projeção. Há, portanto, ainda uma demanda enorme a ser preenchida para que a obra possa ser conhecida como deve, um dos mais lúcidos discursos do cineasta baiano, que lança mão de alegorias e de uma verve irônica peculiar.
Glauber Rocha chamava a fita de síntese da “história geral do colonialismo euro-americano”. Sendo que a visão do invasor se dá a partir do olhar do Terceiro Mundo. Filmado no Congo Brazzaville, na África, em 1969, o filme é uma epopeia sobre a invasão, que substitui – ainda segundo Glauber – as aventuras baseadas em safáris por uma leitura política que parte de um continente que tem “problemas semelhantes aos do Brasil”.
O elenco “multinacional” traz os italianos Rada Rassimov e Giulio Brogi, o francês Jean-Pierre Léaud (ator-símbolo de François Truffaut) e o brasileiro Hugo Carvana, que dão corpo e voz a personagens-arquétipos, que representam os colonizadores e os colonizados, além das diversas instâncias concorrentes para o status quo, como a religião e os interesses burgueses.
Como modelo de produção o filme também é notável, rodado com um baixo orçamento e uma construção baseada em planos-sequência, uso que se tornou recurso recorrente apenas no cinema contemporâneo. Tanto que a narração causou estranheza à época, do mesmo modo, que, nos dias de hoje, o filme soa atual e fluente.
Há um sentido de urgência na narrativa, na maneira como ela se constrói, ao tempo em que a proposição autoral se mostra íntegra e viçosa. Assim a fita se constitui num discurso simbólico, que amplia o sentido histórico da colonização, não se detendo aos acontecimentos no passado, mas também e, talvez principalmente, falando do neocolonialismo, ditado pelo imperialismo do “leão” americano.
Intensidade - Glauber não desacredita da força da imagem, muito pelo contrário, elabora visões propositivas e intensas na sua dramaticidade, mas aposta na verborragia. Fala-se muito na ação, principalmente os que personagens que têm menos a dizer. Isto é parte da fina camada de ironia que permeia toda a história, devotada à ideia de que salta aos olhos aquilo que não se pode esconder, especialmente, se filtrado por um olhar atento, cheio de acuidade.
Parte das premissas do que viria a ser Idade da Terra (1980), o último filme de Glauber, rodado dez anos depois, já estão vivas em O Leão de Sete Cabeças. A noção do jogo de domínio, do poder e do subjugo é parte do tema central de ambos os filmes. Glauber trata do inevitável confronto dos povos do novo mundo e o faz trazendo uma exposição de motivos que passa pelo reconhecimento dos divergentes interesses políticos e econômicos. Cria uma poética de grande força, um manifesto audiovisual novo em folha, mesmo em 2011.
A reapresentação do filme na programação desta semana da Sala Walter da Silveira (Barris) é mais uma chance para o espectador baiano conhecer as sete cabeças deste leão-esfinge de Glauber Rocha. A cópia é nova, nasceu de um trabalho de restauração criterioso, utilizando matrizes originais da Cineteca Nazionale di Roma (Itália).
O milagroso renascimento da película se deu com projeção no Festival de Brasília, em novembro passado. Logo depois, a fita foi relançada em sessão especial na Bahia, seguida de curta temporada de projeção. Há, portanto, ainda uma demanda enorme a ser preenchida para que a obra possa ser conhecida como deve, um dos mais lúcidos discursos do cineasta baiano, que lança mão de alegorias e de uma verve irônica peculiar.
Glauber Rocha chamava a fita de síntese da “história geral do colonialismo euro-americano”. Sendo que a visão do invasor se dá a partir do olhar do Terceiro Mundo. Filmado no Congo Brazzaville, na África, em 1969, o filme é uma epopeia sobre a invasão, que substitui – ainda segundo Glauber – as aventuras baseadas em safáris por uma leitura política que parte de um continente que tem “problemas semelhantes aos do Brasil”.
O elenco “multinacional” traz os italianos Rada Rassimov e Giulio Brogi, o francês Jean-Pierre Léaud (ator-símbolo de François Truffaut) e o brasileiro Hugo Carvana, que dão corpo e voz a personagens-arquétipos, que representam os colonizadores e os colonizados, além das diversas instâncias concorrentes para o status quo, como a religião e os interesses burgueses.
Como modelo de produção o filme também é notável, rodado com um baixo orçamento e uma construção baseada em planos-sequência, uso que se tornou recurso recorrente apenas no cinema contemporâneo. Tanto que a narração causou estranheza à época, do mesmo modo, que, nos dias de hoje, o filme soa atual e fluente.
Há um sentido de urgência na narrativa, na maneira como ela se constrói, ao tempo em que a proposição autoral se mostra íntegra e viçosa. Assim a fita se constitui num discurso simbólico, que amplia o sentido histórico da colonização, não se detendo aos acontecimentos no passado, mas também e, talvez principalmente, falando do neocolonialismo, ditado pelo imperialismo do “leão” americano.
Intensidade - Glauber não desacredita da força da imagem, muito pelo contrário, elabora visões propositivas e intensas na sua dramaticidade, mas aposta na verborragia. Fala-se muito na ação, principalmente os que personagens que têm menos a dizer. Isto é parte da fina camada de ironia que permeia toda a história, devotada à ideia de que salta aos olhos aquilo que não se pode esconder, especialmente, se filtrado por um olhar atento, cheio de acuidade.
Parte das premissas do que viria a ser Idade da Terra (1980), o último filme de Glauber, rodado dez anos depois, já estão vivas em O Leão de Sete Cabeças. A noção do jogo de domínio, do poder e do subjugo é parte do tema central de ambos os filmes. Glauber trata do inevitável confronto dos povos do novo mundo e o faz trazendo uma exposição de motivos que passa pelo reconhecimento dos divergentes interesses políticos e econômicos. Cria uma poética de grande força, um manifesto audiovisual novo em folha, mesmo em 2011.
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