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NOTÍCIA
19/06/2008 - 08:59:59
Jamile Menezes Santos, Jornalista(Bahia)
jamyllem@hotmail.com
Homem negro, morador do bairro do Cabula, em Salvador (BA) e nascido no Recôncavo (São Félix), diretor de Recursos Humanos do Centro de Caboclo Sultão das Matas, coordenador do Núcleo de Ciências e Tecnologias André Rebouças (Inst. Steve Biko), graduado em Engenharia Elétrica com Automação (FTC) e pós-graduando em Gestão e Planejamento do Meio Ambiente. Assim se define Edcarlos Costa (28), vencedor do Prêmio Kabengele Munanga, oferecido anualmente pelo Fórum África e que, em maio de 2008, premiou Costa pelo seu trabalho científico intitulado “Automação e eficiência energética em cultivos hidropônicos como uma proposta de resgate étnico-cultural e sócio-ambiental”. No estudo, o autor propõe o desenvolvimento de sistemas de cultivo de maior qualidade e produtividade, voltado para comunidades afro-descendentes carentes, a exemplo de áreas quilombolas. Em entrevista ao Ìrohìn, Edcarlos Costa (costa.edcarlos@gmail.com) nos fala de sua proposta, a premiação e de retaliações que vem sofrendo por conta de suas pesquisas.
Ìrohìn - Como você começou a enxergar o tema da engenharia negra na graduação?
Edcarlos Costa - Acredito que, independente da formação, nós temos que nos posicionar enquanto homem e mulher negra e levar isso para o que você desenvolve na academia, trazendo propostas para sua realidade de origem. Sempre encarei dessa forma: ir lá, buscar o conhecimento e trazer o retorno para a sociedade, independente das discordâncias da academia, o que quase sempre acontece. E era assim que via minha graduação, pensando em propostas que me permitissem construir respostas que eu pudesse levar para a sociedade ‘.
Ìrohìn – Conhecendo a Hidroponia na graduação, como você passou a relacioná-la à questão étnica?
Edcarlos Costa– Em um projeto interdisciplinar, pude despertar muitas idéias já no primeiro trabalho que tive que desenvolver, que era sobre eficiência energética. Busquei como objeto desse trabalho uma escola pública na qual eu havia estudado (Polivalente do Cabula), pela história que ela trazia pra mim: por também ser um antigo Terreiro naquela área e por ter uma mulher negra em sua direção. A minha proposta era uma redução de custo com energia elétrica em toda a unidade. Com isso, boa parte dos recursos que ela recebia do governo, poderia ser economizada e destinada a outros projetos educativos e sociais na própria escola. Conseguimos uma redução de cerca de 20% nesse consumo. Para minha surpresa, isso não foi visto pela faculdade como um projeto útil e empreendedor, interessante de se apoiar. Hoje, sei que vou levar essa proposta para a secretaria de Educação.
Ìrohìn – E como a Hidroponia chegou até você?
Edcarlos Costa – No semestre seguinte, precisava de um trabalho que envolvesse a Química e, mais uma vez, eu queria que fosse um estudo que propusesse a melhoria de algo para a comunidade, em especial, a negra. Recebi então a dica de um professor sobre o cultivo hidropônico, que se encaixava perfeitamente nos critérios do Projeto. Dei continuidade a esse estudo através dos semestres, pleiteando bolsas em cursos de empreendedorismo. Apresentei uma idéia inovadora, um sistema de monitoramento e controle de cultivos hidropônicos, que iria coletar informações sobre essa prática, criando banco de dados para usos posteriores. Essa idéia foi a 2ª colocada no Concurso Empreendedor Nota Dez (2003). A Hidroponia é um sistema de cultivo, dentro de estufas, sem uso de solo. Os nutrientes de que a planta precisa para desenvolvimento e produção são fornecidos somente por água enriquecida. Em meus estudos sobre esse cultivo, aprendi que era uma prática dos egípcios antigos na época da única faraó-mulher na história do Egito, a mulher negra Hatsheput (1460 A.C).
Portanto, essa é uma tecnologia negra, somos donos dela e, pra mim, passou a ser de grande importância fazer seu resgate, trabalhá-la em seu contexto atual e propor sua implantação em comunidades negras.
Ìrohìn – Como a hidroponia se relaciona, em seu projeto, com a população negra atualmente?
Edcarlos Costa – Descobri outro mundo com a Hidroponia. Ela é um cultivo altamente lucrativo e de produtividade bem maior e melhor do que os cultivos tradicionais. Entretanto, ou por isso mesmo, ela está voltada para um público de alto poder aquisitivo não só na Bahia como no Brasil e no mundo. Basta ser utilizada da melhor forma para que seja uma atividade agrária rentável. Então, se você tem o conhecimento disso, dá uma proposta tecnológica viável para ela, você terá mais segurança, mais produtividade e menos custo. Conseqüentemente, um produto de melhor qualidade. Este que tem que estar nas mãos de quem realmente o originou e precisa, que é a comunidade negra. Então, me senti obrigado a criar esta proposta direcionada a este público.
Ìrohìn – Como ele funcionaria na prática?
Edcarlos Costa – O projeto pretende implantar uma estufa hidropônica automatizada, com a proposta de produzir alimentos, principalmente hortaliças, que combatam as carências nutricionais das comunidades quilombolas, produção de ervas medicinais, o que já é muito bem trabalhado por várias comunidades, como as de Terreiro. Os hospitais, em sua maioria, já são consumidores de produtos hidropônicos, adquiridos junto a fornecedores já estabelecidos. Para pôr isso em prática, pretendo ter o apoio daqueles que já mapearam as áreas quilombolas na Bahia. É importante frisar que isso não é a substituição do solo, mas é poder agregar esse valor, sem dissociar o conhecimento, poder e força que a terra nos traz. É uma proposta da água, que também traz a vida, que já utilizamos muito apropriadamente em nossas comunidades.
Ìrohìn – Mais concretamente, quais retornos essas comunidades obterão com a mudança de prática?
Edcarlos Costa – Estamos falando em retorno histórico, de saúde e econômico para essas comunidades. Elas precisam de dinheiro, do comércio e de estabelecer as relações de gênero que já foram resgatadas desde a faraó egípcia. O homem e a mulher negra precisam trabalhar juntos nesse processo produtivo. Nessas comunidades, eles acabam tendo que trabalhar distante de suas moradias, em terras alheias (ricas e brancas, sem ter um retorno financeiro digno. Geralmente, a mulher sempre fica fora desse processo, sendo sub-remuneradas e subempregadas, por não poderem arcar com os trabalhos pesados do cultivo. Com essa outra cultura, o homem e a mulher não precisarão sair de suas terras, tendo um retorno financeiro superior. Além do comércio, há o retorno de saúde, que é também superior. Com uma estufa hidropônica em funcionamento, você pode produzir hortaliças limpas e enriquecidas naturalmente, produzidas em grande quantidade. Uma série de programas pode acompanhar esta produção: re-educação alimentar, educacional, resgate histórico. É algo a ser pensado coletivamente.
Ìrohìn – Você sentiu dificuldades para levar esse debate na graduação?
Edcarlos Costa – Eu não tive apoio da coordenação, dos docentes. Não conseguia dar visibilidade ao tema, sentia que a coordenação não enxergava a utilidade do trabalho, muito menos via sua importância para a sociedade e para aqueles que precisam. Por isso, quando da minha defesa desse projeto, vou propor a criação do Núcleo de Pesquisa Etno-sócio-ambiental da FTC, sob minha coordenação. Com este Núcleo, teremos a oportunidade de dar visibilidade e apoio a outros projetos que poderão vir relacionados a esta temática na instituição, que é uma das instituições de ensino mais tecnologicamente fortalecidas em Salvador e talvez do estado. Acho que os pesquisadores e docentes negros devem buscar isso nas instituições, principalmente naquelas que desejam se tornar Universidades.
Ìrohìn – Qual o quadro dessa produção na Bahia?
Edcarlos Costa – De acordo com a Associação Baiana de Hidroponia, são apenas 10 registrados em todo o estado que possuem essa cultura. Existem duas estufas hidropônicas apenas que trabalham voltadas para suprir deficiências nutricionais da população carente. Mas nenhuma envolve diretamente a questão étnica.
Ìrohìn – Como foi receber o Prêmio Kabengele Munanga em São Paulo, agora em maio?
Edcarlos Costa – Eu não conhecia a premiação e fiquei maravilhado com a iniciativa. Dentre os seis trabalhos científicos finais, fui contemplado com o primeiro lugar, o que para mim foi um retorno mais do que importante. O prêmio é uma viagem para a África, fazer um intercâmbio com este meu projeto e, com certeza, vou levá-lo às comunidades africanas, e fazer uma série de articulações de apoio para voltar ao Brasil com uma proposta concreta, real, já experimentada e fortalecida.
Ìrohìn – Você diz ter sofrido retaliações na Faculdade. Quais foram e o que você pretende fazer quanto a elas?
Edcarlos Costa – Precisei solicitar ajuda do Ministério Público, pois fui proibido de ter acesso a alguns setores, fui discriminado e humilhado na academia, afastado do meu trabalho de monitoria do curso de Engenharia Elétrica. Disseram que eu não cumpria com minhas atividades, que eu precisava de tempo por conta do meu trabalho de conclusão, que eu não promovi eventos e atividades reais para a academia, o que é uma inverdade. Tenho provas disso e todas elas foram barradas. Também não recebi nenhum apoio em relação ao Prêmio. Então, eu tenho sentido uma série de impedimentos na minha Faculdade, mas, apesar das dificuldades, sei que não me farão renunciar a meus objetivos.
Ìrohìn – O que você pretende fazer agora com este projeto em mãos, a viagem e a Academia?
Edcarlos Costa – Com certeza, se não conseguir desenvolvê-lo em África, o farei aqui, com o meu mestrado, que pretendo fazer na USP. Temos que ocupar aquele espaço, pois ali circula muita informação, muitas pesquisas importantes para o Brasil, temos portanto que estar lá, estimular a formação de mestres, doutores, orientar projetos e fortalecer novas iniciativas. Quero vir de África com um projeto concreto em que eu possa ter autonomia para implantar propostas reais, como a da estufa hidropônica, em todas as comunidades, no mínimo, no estado da Bahia. Já recebi propostas de outros países para desenvolver o projeto. Quero trazer conhecimento espiritual, que trarei da África, com certeza, e tecnológico, que me capacitem a desenvolver o projeto.
Edcarlos Costa defende seu premiado projeto nesta quinta (19 de junho de 2008), na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FTC – Paralela, Salvador- Bahia)
O Prêmio Kabengele Munanga foi criado para incentivar o intercâmbio Brasil x África e divulgar trabalhos que reunirá pesquisadores, personalidades brasileiras e africanas, autoridades, para apresentação e discussão de estudos, concluídos ou em andamento, integrados ao tema “África: história e ações pró-ativas diante da globalização das nações ricas e os acordos bilaterais dos mercados emergentes”. O Prêmio é anual e é responsabilidade do Fórum África (http://www.forumafrica.com.br)
NOTÍCIA
19/06/2008 - 08:59:59
Jamile Menezes Santos, Jornalista(Bahia)
jamyllem@hotmail.com
Homem negro, morador do bairro do Cabula, em Salvador (BA) e nascido no Recôncavo (São Félix), diretor de Recursos Humanos do Centro de Caboclo Sultão das Matas, coordenador do Núcleo de Ciências e Tecnologias André Rebouças (Inst. Steve Biko), graduado em Engenharia Elétrica com Automação (FTC) e pós-graduando em Gestão e Planejamento do Meio Ambiente. Assim se define Edcarlos Costa (28), vencedor do Prêmio Kabengele Munanga, oferecido anualmente pelo Fórum África e que, em maio de 2008, premiou Costa pelo seu trabalho científico intitulado “Automação e eficiência energética em cultivos hidropônicos como uma proposta de resgate étnico-cultural e sócio-ambiental”. No estudo, o autor propõe o desenvolvimento de sistemas de cultivo de maior qualidade e produtividade, voltado para comunidades afro-descendentes carentes, a exemplo de áreas quilombolas. Em entrevista ao Ìrohìn, Edcarlos Costa (costa.edcarlos@gmail.com) nos fala de sua proposta, a premiação e de retaliações que vem sofrendo por conta de suas pesquisas.
Ìrohìn - Como você começou a enxergar o tema da engenharia negra na graduação?
Edcarlos Costa - Acredito que, independente da formação, nós temos que nos posicionar enquanto homem e mulher negra e levar isso para o que você desenvolve na academia, trazendo propostas para sua realidade de origem. Sempre encarei dessa forma: ir lá, buscar o conhecimento e trazer o retorno para a sociedade, independente das discordâncias da academia, o que quase sempre acontece. E era assim que via minha graduação, pensando em propostas que me permitissem construir respostas que eu pudesse levar para a sociedade ‘.
Ìrohìn – Conhecendo a Hidroponia na graduação, como você passou a relacioná-la à questão étnica?
Edcarlos Costa– Em um projeto interdisciplinar, pude despertar muitas idéias já no primeiro trabalho que tive que desenvolver, que era sobre eficiência energética. Busquei como objeto desse trabalho uma escola pública na qual eu havia estudado (Polivalente do Cabula), pela história que ela trazia pra mim: por também ser um antigo Terreiro naquela área e por ter uma mulher negra em sua direção. A minha proposta era uma redução de custo com energia elétrica em toda a unidade. Com isso, boa parte dos recursos que ela recebia do governo, poderia ser economizada e destinada a outros projetos educativos e sociais na própria escola. Conseguimos uma redução de cerca de 20% nesse consumo. Para minha surpresa, isso não foi visto pela faculdade como um projeto útil e empreendedor, interessante de se apoiar. Hoje, sei que vou levar essa proposta para a secretaria de Educação.
Ìrohìn – E como a Hidroponia chegou até você?
Edcarlos Costa – No semestre seguinte, precisava de um trabalho que envolvesse a Química e, mais uma vez, eu queria que fosse um estudo que propusesse a melhoria de algo para a comunidade, em especial, a negra. Recebi então a dica de um professor sobre o cultivo hidropônico, que se encaixava perfeitamente nos critérios do Projeto. Dei continuidade a esse estudo através dos semestres, pleiteando bolsas em cursos de empreendedorismo. Apresentei uma idéia inovadora, um sistema de monitoramento e controle de cultivos hidropônicos, que iria coletar informações sobre essa prática, criando banco de dados para usos posteriores. Essa idéia foi a 2ª colocada no Concurso Empreendedor Nota Dez (2003). A Hidroponia é um sistema de cultivo, dentro de estufas, sem uso de solo. Os nutrientes de que a planta precisa para desenvolvimento e produção são fornecidos somente por água enriquecida. Em meus estudos sobre esse cultivo, aprendi que era uma prática dos egípcios antigos na época da única faraó-mulher na história do Egito, a mulher negra Hatsheput (1460 A.C).
Portanto, essa é uma tecnologia negra, somos donos dela e, pra mim, passou a ser de grande importância fazer seu resgate, trabalhá-la em seu contexto atual e propor sua implantação em comunidades negras.
Ìrohìn – Como a hidroponia se relaciona, em seu projeto, com a população negra atualmente?
Edcarlos Costa – Descobri outro mundo com a Hidroponia. Ela é um cultivo altamente lucrativo e de produtividade bem maior e melhor do que os cultivos tradicionais. Entretanto, ou por isso mesmo, ela está voltada para um público de alto poder aquisitivo não só na Bahia como no Brasil e no mundo. Basta ser utilizada da melhor forma para que seja uma atividade agrária rentável. Então, se você tem o conhecimento disso, dá uma proposta tecnológica viável para ela, você terá mais segurança, mais produtividade e menos custo. Conseqüentemente, um produto de melhor qualidade. Este que tem que estar nas mãos de quem realmente o originou e precisa, que é a comunidade negra. Então, me senti obrigado a criar esta proposta direcionada a este público.
Ìrohìn – Como ele funcionaria na prática?
Edcarlos Costa – O projeto pretende implantar uma estufa hidropônica automatizada, com a proposta de produzir alimentos, principalmente hortaliças, que combatam as carências nutricionais das comunidades quilombolas, produção de ervas medicinais, o que já é muito bem trabalhado por várias comunidades, como as de Terreiro. Os hospitais, em sua maioria, já são consumidores de produtos hidropônicos, adquiridos junto a fornecedores já estabelecidos. Para pôr isso em prática, pretendo ter o apoio daqueles que já mapearam as áreas quilombolas na Bahia. É importante frisar que isso não é a substituição do solo, mas é poder agregar esse valor, sem dissociar o conhecimento, poder e força que a terra nos traz. É uma proposta da água, que também traz a vida, que já utilizamos muito apropriadamente em nossas comunidades.
Ìrohìn – Mais concretamente, quais retornos essas comunidades obterão com a mudança de prática?
Edcarlos Costa – Estamos falando em retorno histórico, de saúde e econômico para essas comunidades. Elas precisam de dinheiro, do comércio e de estabelecer as relações de gênero que já foram resgatadas desde a faraó egípcia. O homem e a mulher negra precisam trabalhar juntos nesse processo produtivo. Nessas comunidades, eles acabam tendo que trabalhar distante de suas moradias, em terras alheias (ricas e brancas, sem ter um retorno financeiro digno. Geralmente, a mulher sempre fica fora desse processo, sendo sub-remuneradas e subempregadas, por não poderem arcar com os trabalhos pesados do cultivo. Com essa outra cultura, o homem e a mulher não precisarão sair de suas terras, tendo um retorno financeiro superior. Além do comércio, há o retorno de saúde, que é também superior. Com uma estufa hidropônica em funcionamento, você pode produzir hortaliças limpas e enriquecidas naturalmente, produzidas em grande quantidade. Uma série de programas pode acompanhar esta produção: re-educação alimentar, educacional, resgate histórico. É algo a ser pensado coletivamente.
Ìrohìn – Você sentiu dificuldades para levar esse debate na graduação?
Edcarlos Costa – Eu não tive apoio da coordenação, dos docentes. Não conseguia dar visibilidade ao tema, sentia que a coordenação não enxergava a utilidade do trabalho, muito menos via sua importância para a sociedade e para aqueles que precisam. Por isso, quando da minha defesa desse projeto, vou propor a criação do Núcleo de Pesquisa Etno-sócio-ambiental da FTC, sob minha coordenação. Com este Núcleo, teremos a oportunidade de dar visibilidade e apoio a outros projetos que poderão vir relacionados a esta temática na instituição, que é uma das instituições de ensino mais tecnologicamente fortalecidas em Salvador e talvez do estado. Acho que os pesquisadores e docentes negros devem buscar isso nas instituições, principalmente naquelas que desejam se tornar Universidades.
Ìrohìn – Qual o quadro dessa produção na Bahia?
Edcarlos Costa – De acordo com a Associação Baiana de Hidroponia, são apenas 10 registrados em todo o estado que possuem essa cultura. Existem duas estufas hidropônicas apenas que trabalham voltadas para suprir deficiências nutricionais da população carente. Mas nenhuma envolve diretamente a questão étnica.
Ìrohìn – Como foi receber o Prêmio Kabengele Munanga em São Paulo, agora em maio?
Edcarlos Costa – Eu não conhecia a premiação e fiquei maravilhado com a iniciativa. Dentre os seis trabalhos científicos finais, fui contemplado com o primeiro lugar, o que para mim foi um retorno mais do que importante. O prêmio é uma viagem para a África, fazer um intercâmbio com este meu projeto e, com certeza, vou levá-lo às comunidades africanas, e fazer uma série de articulações de apoio para voltar ao Brasil com uma proposta concreta, real, já experimentada e fortalecida.
Ìrohìn – Você diz ter sofrido retaliações na Faculdade. Quais foram e o que você pretende fazer quanto a elas?
Edcarlos Costa – Precisei solicitar ajuda do Ministério Público, pois fui proibido de ter acesso a alguns setores, fui discriminado e humilhado na academia, afastado do meu trabalho de monitoria do curso de Engenharia Elétrica. Disseram que eu não cumpria com minhas atividades, que eu precisava de tempo por conta do meu trabalho de conclusão, que eu não promovi eventos e atividades reais para a academia, o que é uma inverdade. Tenho provas disso e todas elas foram barradas. Também não recebi nenhum apoio em relação ao Prêmio. Então, eu tenho sentido uma série de impedimentos na minha Faculdade, mas, apesar das dificuldades, sei que não me farão renunciar a meus objetivos.
Ìrohìn – O que você pretende fazer agora com este projeto em mãos, a viagem e a Academia?
Edcarlos Costa – Com certeza, se não conseguir desenvolvê-lo em África, o farei aqui, com o meu mestrado, que pretendo fazer na USP. Temos que ocupar aquele espaço, pois ali circula muita informação, muitas pesquisas importantes para o Brasil, temos portanto que estar lá, estimular a formação de mestres, doutores, orientar projetos e fortalecer novas iniciativas. Quero vir de África com um projeto concreto em que eu possa ter autonomia para implantar propostas reais, como a da estufa hidropônica, em todas as comunidades, no mínimo, no estado da Bahia. Já recebi propostas de outros países para desenvolver o projeto. Quero trazer conhecimento espiritual, que trarei da África, com certeza, e tecnológico, que me capacitem a desenvolver o projeto.
Edcarlos Costa defende seu premiado projeto nesta quinta (19 de junho de 2008), na Faculdade de Ciências e Tecnologia (FTC – Paralela, Salvador- Bahia)
O Prêmio Kabengele Munanga foi criado para incentivar o intercâmbio Brasil x África e divulgar trabalhos que reunirá pesquisadores, personalidades brasileiras e africanas, autoridades, para apresentação e discussão de estudos, concluídos ou em andamento, integrados ao tema “África: história e ações pró-ativas diante da globalização das nações ricas e os acordos bilaterais dos mercados emergentes”. O Prêmio é anual e é responsabilidade do Fórum África (http://www.forumafrica.com.br)
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