http://www1. folha.uol. com.br/folha/ mundo/ult94u5823 50.shtml
17/06/2009 - 13h31
No Senado, haitianos pedem que missão liderada pelo Brasil acabe
MARCELA CAMPOS
da Folha Online, em Brasília
"Um fracasso" é como o haitiano Frantz Dupuche, membro da Papda (Plataforma Haitiana em Defesa de um Desenvolvimento Alternativo) , qualifica a atuação da missão de paz liderada por tropas do Brasil naquele país, há cinco anos.
"Viemos informar os senadores brasileiros que o desempenho da Minustah [Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti] é um fracasso por não cumprir sua meta de estabilizar o país. Trouxemos fotos de zonas com
hospitais e escolas que foram bombardeadas com gás [lacrimogêneo] pelos soldados da ONU", afirmou.
Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, Dupuche afirmou que uma delegação de trabalhadores haitianos, da qual faz parte, chegou ao Brasil nesta terça-feira (16) para denunciar excessos perpetrados pelos soldados das tropas da ONU (Organização das Nações Unidas).
O Brasil tem 1.200 soldados dos 7.000 no país da América Central. "O que queremos é nossa soberania. Se essa tropa não está ajudando, que se vá", disse Dupuche à Folha Online. Ele diz que a violência civil não diminuiu após a intervenção das tropas. "Pelo contrário, aumentou o mercado de drogas. E não se sabia o que eram sequestros antes de 2004."
Há também relatos de desaparecimento de pessoas, de exploração de mão-de-obra infantil e de repressão violenta a greves e a mobilizações sindicais pela polícia local, referendada pelas tropas da Minustah, de acordo com o diretor do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil no Rio), Aderson Bussinger, que esteve no Haiti em 2007.
"É um quadro, moral e psicologicamente, de uma ocupação de militarismo exacerbado, que, a meu ver, não tem nada a ver com uma missão humanitária."
Sandra Quintela, integrante do movimento social internacional Jubileu Sul, ainda acusou as tropas de, no começo deste mês, terem reprimido violentamente manifestações por aumento do salário mínimo na capital Porto Príncipe. De acordo com Quintela, dezenas de estudantes universitários foram presos ou ficaram feridos, e um deles foi baleado na cabeça.
O salário mínimo haitiano é de 70 gourdes, o equivalente a menos de R$ 100 por mês. O valor é o mesmo desde 2003, a despeito do aumento no custo de vida desde então.
Além de Dupuche, compareceram ao Senado Carole Pierre Paul-Jacob, dirigente da organização Solidariedade das Mulheres Haitianas, e Didier Dominique, membro da Central Sindical e Popular Batay Ouvriyer. O trio, trazido ao Brasil a convite da Conlutas, Jubileu Sul, MST, Intersindical e setores do Movimento Negro, também terá audiência no Itamaraty.
Gastos
"Os haitianos poderiam resolver os próprios problemas", opina Dupuche. "A Minustah gasta cerca de US$ 560 milhões de dólares por ano. Nesses cinco anos, já foram quase US$ 3 bilhões. Queremos que esse dinheiro seja usado para contratar médicos, professores. "
Os números de Dupuche não condizem com os do Ministério da Defesa, que contabiliza gastos de cerca de R$ 577 milhões em mais de quatro anos de atuação --de junho de 2004 a dezembro de 2008.
Outro lado
O Ministério das Relações Exteriores defende a Minustah e diz que ela possui um caráter multidimensional, além do consentimento por parte do governo do Haiti. "A Minustah [...] não trata só da segurança, vai além das funções de monitoramento de acordos de cessar fogo, abrange a reinserção social de grupos armados, a promoção dos direitos humanos e a criação de um ambiente propício para investimentos e desenvolvimento" , diz Gilda Motta Santos Neves, chefe da Divisão das Nações Unidas no MRE.
Para Neves, a "presença do Brasil no Haiti atende a um princípio de não-indiferenç a, de solidariedade, que complementa o princípio da não-intervenção". Segundo a diplomata, houve avanços desde 2004, como a realização de eleições e queda nos índices de criminalidade. "Hoje a polícia já circula em áreas onde antes não podia."
De acordo com a diplomata, vai haver uma substituição gradual das tropas por uma presença civil e, posteriormente, a retirada completa da missão, "o que é o objetivo de todos nós". Ela apontou áreas em que há intensa cooperação bilateral, como saúde da mulher, recolhimento e processamento de lixo e formação profissional.
Gilda relatou que, desde 1956, o Brasil participou de mais de 30 operações de paz da ONU e que o uso da força só se dá sob autorização do Conselho de Segurança da instituição.
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17/06/2009 - 13h31
No Senado, haitianos pedem que missão liderada pelo Brasil acabe
MARCELA CAMPOS
da Folha Online, em Brasília
"Um fracasso" é como o haitiano Frantz Dupuche, membro da Papda (Plataforma Haitiana em Defesa de um Desenvolvimento Alternativo) , qualifica a atuação da missão de paz liderada por tropas do Brasil naquele país, há cinco anos.
"Viemos informar os senadores brasileiros que o desempenho da Minustah [Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti] é um fracasso por não cumprir sua meta de estabilizar o país. Trouxemos fotos de zonas com
hospitais e escolas que foram bombardeadas com gás [lacrimogêneo] pelos soldados da ONU", afirmou.
Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, Dupuche afirmou que uma delegação de trabalhadores haitianos, da qual faz parte, chegou ao Brasil nesta terça-feira (16) para denunciar excessos perpetrados pelos soldados das tropas da ONU (Organização das Nações Unidas).
O Brasil tem 1.200 soldados dos 7.000 no país da América Central. "O que queremos é nossa soberania. Se essa tropa não está ajudando, que se vá", disse Dupuche à Folha Online. Ele diz que a violência civil não diminuiu após a intervenção das tropas. "Pelo contrário, aumentou o mercado de drogas. E não se sabia o que eram sequestros antes de 2004."
Há também relatos de desaparecimento de pessoas, de exploração de mão-de-obra infantil e de repressão violenta a greves e a mobilizações sindicais pela polícia local, referendada pelas tropas da Minustah, de acordo com o diretor do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil no Rio), Aderson Bussinger, que esteve no Haiti em 2007.
"É um quadro, moral e psicologicamente, de uma ocupação de militarismo exacerbado, que, a meu ver, não tem nada a ver com uma missão humanitária."
Sandra Quintela, integrante do movimento social internacional Jubileu Sul, ainda acusou as tropas de, no começo deste mês, terem reprimido violentamente manifestações por aumento do salário mínimo na capital Porto Príncipe. De acordo com Quintela, dezenas de estudantes universitários foram presos ou ficaram feridos, e um deles foi baleado na cabeça.
O salário mínimo haitiano é de 70 gourdes, o equivalente a menos de R$ 100 por mês. O valor é o mesmo desde 2003, a despeito do aumento no custo de vida desde então.
Além de Dupuche, compareceram ao Senado Carole Pierre Paul-Jacob, dirigente da organização Solidariedade das Mulheres Haitianas, e Didier Dominique, membro da Central Sindical e Popular Batay Ouvriyer. O trio, trazido ao Brasil a convite da Conlutas, Jubileu Sul, MST, Intersindical e setores do Movimento Negro, também terá audiência no Itamaraty.
Gastos
"Os haitianos poderiam resolver os próprios problemas", opina Dupuche. "A Minustah gasta cerca de US$ 560 milhões de dólares por ano. Nesses cinco anos, já foram quase US$ 3 bilhões. Queremos que esse dinheiro seja usado para contratar médicos, professores. "
Os números de Dupuche não condizem com os do Ministério da Defesa, que contabiliza gastos de cerca de R$ 577 milhões em mais de quatro anos de atuação --de junho de 2004 a dezembro de 2008.
Outro lado
O Ministério das Relações Exteriores defende a Minustah e diz que ela possui um caráter multidimensional, além do consentimento por parte do governo do Haiti. "A Minustah [...] não trata só da segurança, vai além das funções de monitoramento de acordos de cessar fogo, abrange a reinserção social de grupos armados, a promoção dos direitos humanos e a criação de um ambiente propício para investimentos e desenvolvimento" , diz Gilda Motta Santos Neves, chefe da Divisão das Nações Unidas no MRE.
Para Neves, a "presença do Brasil no Haiti atende a um princípio de não-indiferenç a, de solidariedade, que complementa o princípio da não-intervenção". Segundo a diplomata, houve avanços desde 2004, como a realização de eleições e queda nos índices de criminalidade. "Hoje a polícia já circula em áreas onde antes não podia."
De acordo com a diplomata, vai haver uma substituição gradual das tropas por uma presença civil e, posteriormente, a retirada completa da missão, "o que é o objetivo de todos nós". Ela apontou áreas em que há intensa cooperação bilateral, como saúde da mulher, recolhimento e processamento de lixo e formação profissional.
Gilda relatou que, desde 1956, o Brasil participou de mais de 30 operações de paz da ONU e que o uso da força só se dá sob autorização do Conselho de Segurança da instituição.
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