MEXER EM COLMEIA COM VARA CURTA...
Tenho  um amigo cuja amizade foi construída com carinhosas doses de respeito  mútuo, misturada com sonhos, desejos e solidariedade de que no Brasil  seja possível viver sem racismo. Para isso, ainda precisamos de muito  trabalho, seja nos movimentos sociais, em especial o negro e de  mulheres, seja nas instâncias de poder, na implementação de políticas  públicas, muitas recentemente abortadas pelos racistas de plantão, com a  conivência de negociadores no Congresso Nacional. Nesse caso, me refiro  à aprovação (?) do Estatuto da Igualdade. Mas o que eu quero dizer agora trata-se de uma amizade entre pessoas que não querem pouca coisa, nem se contentam com pouco. 
Outra  marca de nossa amizade ele demonstra quando adoeço. Ah! Nesses casos,  ele costuma dizer “se cuide, você não imagina quantos anos serão  necessários para surgir uma outra pessoa, com o seu perfil”. Ouvir isso  de um dos criadores do Instituto Cultural Steve  Biko - o primeiro curso de pré-vestibular para negros no Brasil, há  mais de 18 anos - é tão gostoso, é tão agradável, que mexe com a minha  autoestima tão achincalhada por práticas diárias de violência racial e sexual que até assusta e enfraquece uma virose. Não é exagero não!!! 
E  é disso que quero falar um pouco, já que foi uma mistura de falta de  respeito e de reconhecimento do papel histórico de nossas lideranças  negras que me motivou responder as mal escritas notas e texto do Sr. Law  Araújo, uma tentativa infantil, imatura, inconsequente de atacar,  pessoas que ele, no afã oportunista de assegurar uma cadeira na dança  dos/as ministeriáveis, esqueceu que as nossas diferenças não devem  alcançar os pilares básicos da luta negra como a resistência histórica  dos povos negros escravizados no Brasil e respeito à ancestralidade.
Falo  isso porque aprendi a respeitar mulheres guerreiras, nobres como Arany  Santana e Luiza Bairros. O Sr.Law não deve saber nem consegue imaginar o  que é fazer parte de um grupo que criou o primeiro bloco afro baiano, o  Ilê Aiyê e ler no Jornal A Tarde, após o primeiro desfile público da  entidade algo como: “tom destoante no Carnaval de Salvador?” Será que  ele já parou para refletir o significado de se levar para o Carnaval uma  dança negra, até então guetizada pelo racismo baiano cujos passos  básicos nos embalam hoje nas noites de festa negra? Ou de falar em história da África em sala de aula muitos anos antes da criação da Lei 10.639, como fez Arany Santana.
Será  que o senhor. consegue imaginar o que é apresentar à sociedade  brasileira uma proposta de beleza negra, hoje literalmente replicada em  vários estados brasileiros e, com isso, levantar a autoestima das  mulheres negras que passaram a esticar o pescoço (e não os cabelos) e a  olhar os racistas, como diz Vilma Reis, uma grande liderança negra, com o  bico na diagonal? Esse exemplo não é pouca coisa não Sr. Law Araújo. É  mudança. É resistência. É identidade negra. É enfrentamento ao racismo  do nosso jeito. Tudo isso, com a participação de Arany Santana. É mole?
Agora  vamos combinar: é preciso ser muito ‘banda voou” (ainda se fala essa  expressão? Sou tão dinossaura...) para pensar que, usando as novas  tecnologias, as novas redes sociais, alguém pode desqualificar uma  mulher negra com as trajetórias de militâncias social e acadêmica de uma  Luiza Bairros. Não consegue não. Pelo contrário. Acredito que a  intenção foi tão infeliz que os resultados já estão na mesa. Não  consegue não. Pelo contrário. Acredito que a intenção foi tão infeliz,  que os resultados já estão na mesa. 
Quem  chegou ao doutorado e trabalha com questões de gênero e raça sabe que  dois textos de Luiza, escritos na década de 90 quebraram as barreiras  acadêmicas e são referências ainda hoje, 2010, “Nossos feminismos  revisitados” e “Lembrando Lélia González” porque foram produzidos de um  lugar bem ausente e alvo de caras feias e de narizes torcidos  no Ensino Superior: o lugar da militância, de quem pensa, projeta para o  futuro o que se constrói no hoje: a possibilidade de construirmos um  feminismo negro, que reconheça as diferenças e as particularidades do  que é ser mulher negra no Brasil, na diáspora, É pouco? Luiza Bairros,  brilhantemente investiu na inauguração de uma outra epistemologia,  originária da produção de mulheres negras. Quer mais? Vamos lá, então,  sem recorrer ao Currícul  o Lattes.
Luiza Bairros foi militante do Movimento Negro Unificado (MNU/1978), uma das primeiras entidades negras com caráter nacional do  Brasil, com ramificações em vários estados nacionais, com um pequeno  detalhe: o MNU foi criado em plena Ditadura Militar. Eu tenho orgulho de  pertencer a esse grupo e se precisar, algum dia posso lhe traduzir o  que significou a criação de uma entidade negra e nacional, repito, em  plena Ditadura Militar. Afora isso e, até dando um salto gigantesco no  tempo, vamos pensar rápido: Luiza Bairros seria indicada para atuar no  Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD/ONU se não  tivesse ‘bala na agulha?’ Teria assumido uma Secretaria de Estado sem o  apoio das feministas negras e brancas baianas   e de vários segmentos do Movimento Negro baiano e nacional? E mais: ao  final de sua gestão, marcada por problemas, dificuldades e conquistas  ser considerada uma das melhores secretarias petistas no enfrentamento  do racismo e sexismo? Gente vamos respeitar né?
Só  mais uma coisinha: dessa sua intempestiva, inconsequente e imatura  atitude, com o apoio da Conen (é mesmo?) ficou uma lição: mexer com vara  curta em colmeia cheia de abelhas rainhas dá problema. E a depender da  espécie dessas abelhas, o saldo pode ser fatal viu? Hum... ferrão de  abelha rainha, quem agüenta? Suas notas e texto evidenciaram sua total  irresponsabilidade com nossas lideranças que assumiram cargos públicos  levando uma proposta de governo que contemplasse a população negra e que  ainda hoje enfrenta resistência dentro dos governos petistas. Por  favor, me aponte quantos outros secretários e ministros petistas querem  saber dessa conversa? 
Seus escritos mostram contradições elementares entre o que está no seu twitter e na abertura de um desses folhetins e que pisoteiam a idéia de credibilidade. Mesmo assim não deu  prá segurar. Afinal, mexer em colméia de abelha com vara curta...  Lamento que sua opção seja por um caminho suicida. Mas aproveite e reúna  outros amadores incompetentes, pois esse tipo de política é  descartável. Respeito é bom e está presente nas culturas de matrizes  africanas. Divergência política é outra coisa, mas pode se dar, também  no campo do respeito.
Agora  vamos combinar outra coisa o Senhor. se alvoroça em afirmar várias  vezes em um mesmo texto, com as mesmas palavras “minhas abordagens  políticas”. Menossssss! O que ficou evidente nas suas mal redigidas  notas e texto é sua ‘guerra aberta’ com a  Língua Portuguesa. Quer um exemplo? Em  um trecho o Senhor diz:” minha construção política, tanto para o  enfrentamento da diversidade no debate político institucional interno,  como também na sociedade”. Reveja: o melhor não seria, em vez de  enfrentar a diversidade, defendê-la, como um caminho possível do  conhecimento e respeito de outras culturas e posturas?
Também vejo em seus textos uma intenção desrespeitosa com duas mulheres negras e... principalmente, o seu medo e já desespero, causados apenas por “fofocas” sobre  possíveis  indicações de mulheres negras vitaminadas como Arany Santana e Luiza  Bairros para compor os governos petistas. Por último um pedido, motivado  pelo Sr.: não me deixem de fora das articulações em defesa dos nomes de  Arany Santana e Luiza Bairros para os governos Dilma e Jaques Wagner.  Afinal... terei o maior prazer em assinar embaixo dessas sugestões e me  aliar a essas duas abelhas rainhas. 
Ceres Santos
Jornalista (DRT 6156)
Mestra em Educação 
Coordenadora Executiva do Ceafro
Uma das primeiras afiliadas ao PT/RS no ano do seu surgimento
 
 
   
 
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